ARNALDO GARCEZ EMOCIONA E SEDUZ COM SUA “COR PLURAL”
25 de julho de 2015ESPALHA EMOÇÃO, PET NA ROÇA E JAÇANÃ SÃO OS CAMPEÕES DO FESTIVAL DO MOCAMBO
27 de julho de 2015FÁBIO PARRA| Como o tempo voa… lá se foram dez festivais seguidos que acompanho em Parintins! Nem sei mais se sou visitante ou se já virei um brincante, uma figura já carimbada na ilha nos dias de festival. Daqueles que já conhecem a ilha inteira, a(s) história(s) dos dois bois e toda a antologia de toadas, chamo os itens dos bois pelo número, e sei o nome das ruas (apesar de não existirem placas na maioria delas).
E nesses dez anos, vi mais coisas legais desaparecerem que boas novidades. A Praça Digital do Cristo Redentor pelo segundo ano interditada é uma das coisas mais vergonhosas que tenho vivenciado. Cadê os shows de bandas e músicos de boi que embalavam as tardes de calor? Se espremem na Praça do Comunas para se apresentar no complexo Cabanas-Comunas-Verçosa? Não é preciso ser geólogo para perceber que o grande Amazonas está comendo também o barranco de lá e, se não houverem intervenções urbanísticas pontuais e bem feitas, teremos logo um fenômeno de “terras caídas” levando toda a rua Caetano Prestes Rio abaixo.
O que aconteceu com o “pós-arena” que tínhamos na catedral até 2009? Era magnífico! Bandas de toada se apresentavam no coreto (para alegria dos visitantes) e do outro lado, uma tenda com música eletrônica. Era uma felicidade só. Quem tirou isso? A própria igreja? A mesma igreja que com sua Juventude Alegre Católica (JAC) apoiou a criação do festival? A mesma igreja que já teve sua praça como palco principal da disputa dos bois (aliás, o primeiro festival folclórico, em 1966, era uma campanha para concluir a construção da catedral)? Não se mexe com o folclore assim! Agora, quando a festa na arena acaba o povo vai automaticamente para a matriz, onde carros disputam quem toca forró mais alto… Acabou-se o gosto de arraial, de São João…
Certamente a melhor bola dentro desse 50º Festival Folclórico de Parintins foi, sem dúvida, a criação das praças de alimentação das casas Vermelha (antiga residência dos Faria) e da Azul, em frente, na Rua Cordovil. Maravilhoso o clima de acolhimento em ambas, inclusive com torcedores contrários, além da qualidade dos produtos, vendidos a preços acessíveis.
Impressão minha, ou essa queda no número de visitantes (não sejamos hipócritas…a vazante está tão severa nesse assunto que, dessa vez, brincantes tradicionais até de Manaus não vieram) fez aumentar o número de brincantes parintinenses tanto na arena quanto nas ruas? Isso foi legal sim! Aliás, a Festa dos Visitantes que acontece no estádio Tupy Cantanhede não é bem uma festa para visitantes, né? É uma festa para o povo da ilha que nem sempre tem atrações de nível nacional nas festas. Porque um visitante como eu, sudestino, jamais tiraria meu precioso tempo no Amazonas para ver Anitta. Eu me esbaldei mesmo foi no Baile do Ilha Verde, bombando de gente que entendia de boi, e atrações preciosas como Paulinho Faria, Edílson Santana, Chico da Silva e Toada de Roda.
A determinação de fazer a polícia invadir estabelecimentos, encerrar a venda de bebidas às 4 horas e chegar ao cúmulo de mandar os brincantes para casa às 4 da manhã também é impensada. É fácil para um policial armado e fisicamente preparado “pegar o beco” e ir pra casa às 4 da manhã, antes de clarear o dia. Mas não para um brincante ou visitante que tem que andar por ruas escuras, ermas, à mercê de assaltos.
Sim…assaltos. Nunca houveram tantos assaltos na ilha como dessa vez. Na quarta-feira que antecedeu o festival, um amigo meu nascido em Parintins, batuqueiro da Baixa de São José, sofreu um assalto violento em plena Rua Clarindo Chaves! Eram apenas 8 horas da noite!
Também é um verdadeiro assalto o preço dos ingressos. A cadeira de pista que custava 250 reais em 2006 agora está 820 reais. Dessa vez sobrou mais ingresso que no ano da copa, né? O que melhorou no espetáculo? Bem… ambos os bois empobreceram demais suas fantasias e alegorias de lá pra cá, diminuíram suas apresentações em meia hora, os tuxauas diminuíram de 8 a 10 para 3 por noite, e o acesso às cadeiras especiais do lado vermelho, ALAGA!
Com a chuva cada vez mais freqüente – são três festivais seguidos em que chove pelo menos uma noite – eu recomendo a todos os compradores de cadeiras que usem uma sandália de borracha para não estragarem seus sapatos. Não houve dessa vez, porém, o risco de se manchar com a pintura nova: o bumbódromo não é pintado desde 2013…
Ah, querem saber o que o visitante pensa sobre essa polêmica toda do resultado, escutas telefônicas e tal? Bem, vou fazer minhas considerações: apesar de eu ser Garantido doente, eu acredito que o Caprichoso poderia ter ganho esse festival sem precisar das supostas armações. Seria mais digno que a primeira noite fosse cancelada, para não ficarmos sabendo da piada do ritual não apresentado que levou nota 10. Resultado dado, Caprichoso campeão, não tem como voltar atrás. E lá fui eu, com uma camisa verde, cumprimentar meus amigos azulados no Zeca Xibelão (não sem antes curtir uma festa animadíssima na Cidade Garantido…nem parecia que o meu amado boi tinha sido vice…).
Talvez minha visão já não seja mais de visitante…são dez anos de muita proximidade, de amizade com artistas que trabalham nas escolas de samba daqui de São Paulo, de amizade com compositores, com batuqueiros e marujeiros, com itens, já se foram peixes e mais peixes devorados…já participei até de mutirão pra terminar adereços no Q.G.
Tanto ou mais que o espetáculo dos bois na arena, sou apaixonado pela ilha encantada, pelo jeito como o sol nasce sobre ela, pelo jeito como ele se põe, pelo jeito que o rio dança em sua orla. Pelo calor, pelo cheiro da chuva, pelos sabores, pelas amizades que faço. Quem me conhece, sabe que a cada festival deixo toda a minha bagagem na ilha e trago na mala somente farinha de mandioca e pimenta. Pimenta murupi que, quando corto, seu cheiro me traz na mente o sotaque dos meus amigos parintinenses…olha já! Até para o ano, maninho! Que Deus, Nossa Senhora do Carmo, São Benedito e São Pedro Pescador abençoem a todos!
Fábio Parra, 43 anos, é educador, diretor cultural do G.R.C.E.S. Mocidade Alegre, mestre em Artes Visuais pela UNESP, especialista em História da Arte pela Universidade São Judas Tadeu e apaixonado pela cultura amazônica.