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12 de janeiro de 2017CULTURA| Os fios que tecem as histórias de Horácio e Marília contam a narrativa de afetos que floresceu no Jardim Sideral: o Camapu. A fruta germina até mesmo nos ambientes mais hostis e empresta o nome ao Projeto localizado no bairro do Coqueiro. Ela exige paciência, dedicação e carinho, exatamente como nascem as marionetes no atelier do Projeto Camapu, premiado no Edital Funarte de Teatro Myriam Muniz 2015 para a montagem da peça “O Conto das Duas Ilhas”. Na obra, as marionetes Horácio e Marília vivem os heróis de uma trama de busca e esperança. O trabalho pode ser acompanhado todos os sábados de janeiro durante a abertura do atelier para a comunidade, que é convidada a participar da construção do espetáculo, previsto para estrear em 3 de fevereiro.
Duplas, trios e gente solitária, ligam, agendam, chegam perto para compartilhar e aprender essa arte de criar uma teia de afetos. É que cada fio conectado à marionete, carrega toda uma vida de sentimentos. É a relação estabelecida entre criador e criatura. O jeito de caminhar, a forma de se apresentar, a lapidação de uma identidade, a medida exata de cada movimento da marionete leva tempo, definido pelo empenho e pela história construída ali. “Só estando muito próximo, é preciso ficar íntimo do boneco e isso acaba sendo transmitido na manipulação”, avalia a marionetista e cenógrafa Nina Brito, uma das idealizadores do Camapu, ao lado de San Rodrigues.
Essa afetuosidade é a marca do trabalho de San e Nina, que desde 2013 espalham a semente de sua arte por onde passam. No palco e nos bastidores dos espetáculos. A experiência do atelier aberto é essa oportunidade de partilha, de troca para disseminar uma arte rara, milenar. San e Nina mostram o que aprenderam, conversam, contam a narrativa de aprendizados nos livros, nos ensaios, nos cursos, nas horas exaustivas e diárias de trabalho, dedicados a perseguir o resultado, apresentando muitas e muitas vezes os espetáculos “Borbô” e “O Jardim de Alice”, que antecedem o “O Conto das Duas Ilhas” no repertório do grupo e funcionam como um laboratório sempre vivo. “Nossa pesquisa é intensa, todo dia, o tempo todo”, lembra o artista plástico e marionetista San Rodrigues.
Nina e San não ensinam nada. Porque não há papéis para professores e alunos ali. Há apenas aprendizados conjuntos, experiências que deram certo. “A marionete te convence quando ganhou vida (o ânima), quando você olha para o boneco e ele te convence que tem uma vida própria. A gente não aprendeu isso do nada. Tem muita intuição, muita vontade, não é um bicho de sete cabeças”, diz San. A mesma intuição que vai conduzindo cada detalhe desse afeto. “Não estabelecemos gênero para a marionete, por exemplo. Como é uma relação afetuosa, está na mais na percepção do público dessa nossa relação. O público estabelece isso na cena. Ele se vê ali, porque fazemos com verdade. Nosso sentimento não é interpretado. Ele está ali, presente. Talvez seja por isso que emocione tanto”, acredita o artista.
Não há segredos nem técnicas avançadas na arte semeada pela dupla. No começo do trabalho, há três anos, começaram comprando equipamentos, montaram uma marcenaria na sede do Projeto para conceberem os bonecos. Logo perceberam que o caminho deveria ser outro, com técnicas de confecção e manipulação mais simples, possíveis de serem feitas em qualquer lugar, sem muitos recursos. É o tipo de aprendizado propagado nas visitas ao atelier e que o palhaço e bonequeiro Shita Yamashita colheu nas passagens pelo espaço no ano passado. Agora, ele tenta reproduzir em casa, ao lado da mulher, em Vitória (ES).
“Depois da madeira pré-organizada e limpa, vem a parte mais fascinante, colocar na madeira o projeto desenhado e estudado no papel. Uma vez montado esse boneco, você começa a tomar um amor por ele, que parece que nunca lixou o bastante, sempre tem algo mais para arredondar, deixar vivo, dar a forma mais perfeita possível. O marionetismo é um teatro diferente, pra ser feito com calma, pensando na vida, pensando na transformação da madeira e na transformação do ser humano. É um teatro que só funciona se for um teatro feito com muito amor”, afirma Shita.
A proposta do Projeto Camapu é que a comunidade acompanhe o desenvolvimento da peça até a apresentação, com visitas monitoradas ao atelier, ao estúdio e durante os ensaios de marionetes e construção das cenas do espetáculo. A estreia está prevista para o dia 3 de fevereiro, no Teatro Roc Roc, como é carinhosamente chamado o espaço dedicado aos espetáculos que o Projeto Camapu montou na sede de suas atividades.
Baseado no texto homônimo de San Rodrigues, “O Conto das Duas Ilhas” une a técnica de manipulação de marionetes com a animação em stop motion. No palco, a vida em movimento e em transformação. A busca permanente por sonhos e conquistas. E como esse caminhar no mundo afeta nossas escolhas, nossas atitudes e crenças mais íntimas. A relação entre os personagens procura despertar no público o sentimento de perseverança, persistência, compaixão e solidariedade.
Para conhecer e acompanhar as atividades do espetáculo O Conto das Duas Ilhas, basta agendar uma visita pelo e-mail camapu.arte@gmail.com ou pelo telefone 98114-7149.
O atelier funciona no conjunto Jardim Sideral, no bairro do Coqueiro em Belém/PA. O espaço fica aberto à visitação todos os sábados até 18 de fevereiro, das 10h às 17h.
Fotos: Alexandre Yuri