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9 de junho de 2018PESQUISA| Águas de rios e mares de várias partes do mundo contaminadas por poluentes químicos estão provocando a feminização de peixes, em função dos poluentes terem um alto nível de estrogênio, o hormônio sexual feminino produzido nos ovários. O assunto foi apresentado nesta sexta-feira (08) no encerramento do 11º Simpósio Internacional de Fisiologia da Reprodução (ISRPF), que desde o último domingo reuniu em Manaus os maiores especialistas da área.
Presidido pelo diretor do Inpa, o pesquisador Luiz Renato de França, o evento ocorreu pela primeira vez na América Latina. Mais de 200 cientistas, profissionais e estudantes de 30 países participaram do Simpósio, 40% são brasileiros. “Estamos extremamente felizes com o resultado e com a sensação de dever bem cumprido”, destacou França, que foi homenageado com um pirarucu entalhado em madeira, peixe símbolo do evento, e flores.
O professor da University of Exeter (Inglaterra), Charles Tyler, busca entender em seus estudos como os poluentes químicos, que de uma forma ou de outra sempre vão parar nas águas, impactam o funcionamento da vida selvagem, mais especificamente de peixes, o grupo selvagem mais exposto a poluentes. Uma das propostas do biólogo especializado em reprodução de peixes e ambientalista é produzir ajudar na proteção da vida selvagem dos peixes nesses ambientes.
Há cerca de 100 mil tipos de poluentes químicos no ambiente e de forma regular são despejados pelo menos 30 mil. Produtos farmacêuticos como os anticoncepcionais, veterinários, cosméticos, de higiene, limpeza e agrotóxicos estão na lista.
A equipe de Tyler está interessada nos poluentes que ferem ou mutilam o sistema reprodutivo dos peixes. Muitas evidências mostram que eles podem modificar a maneira com que os peixes desenvolvem seu sexo, afetando a habilidade das espécies de se reproduzir e a reprodução é importantíssima para se continuar com essas populações animais.
Segundo o pesquisador, um dos maiores desafios da ecotoxicologia é os efeitos desses poluentes químicos no tamanho da população, e na maioria dos casos os estudos encontram problemas na população de peixes no mundo, incluindo até extinção e perda local dessas populações. “O que se vê é que esses poluentes têm um nível muito alto de estrogênio e isso tem causado uma feminização da população, mas ainda não dá para dizer que é isso que está fazendo extinguir”, destacou Tyler.
A maioria desses estudos é feito nos Estados Unidos, Europa e Austrália. No Brasil está iniciando, inclusive incluindo como área de pesquisa a Bacia Amazônica. “Não há dúvida de que temos problema de poluição na Amazônia, mas não se sabe se o problema aqui é tão grande quanto já é na Europa”, conta.
Na Bacia Amazônica há um sistema de rios enorme que dá uma capacidade maior de diluição dos poluentes. “É muito provável que os problemas que percebemos na Europa e no resto do mundo também ocorram na Bacia Amazônica. Agora o nível e o grau de impacto ainda estão por ser estudados”, completou.
Apesar de desanimar-se em alguns momentos, Tyler diz ser otimista na busca de soluções para os problemas apresentados. Além de pesquisador, também trabalha junto a governos internacionais levando informações relevantes para possam ser usadas da melhor maneira pelos órgãos públicos. Educação ambiental e internalização de valores de proteção ao ambiente nas gerações mais jovens para que elas se apaixonem por essa causa também é considerado vital no processo.
“Sou apaixonado pelo meio ambiente. É por isso que faço o trabalho que eu faço, fico bastante deprimido às vezes, quando vejo que mesmo quando se tem muita informação, passa para os governos, eles simplesmente não usam porque vai contra o interesse de uma grande empresa. Então fico muito frustrado às vezes. Aí me lembro de que tenho de ser dogmático sobre essas questões”, revelou.
Apoio e Financiamento
O Simpósio tem o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Recebe ainda o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/Manaus), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Nilton Lins (Manaus, AM), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Ocidental (Embrapa/Manaus, AM) e Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu).
Foto: Cimone Barros