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24 de setembro de 2018MEIO AMBIENTE| Um estudo recente, com mais de cem anos de registros dos níveis do rio Amazonas, indica um aumento significativo na frequência e magnitude das enchentes nos últimos 30 anos em comparação com os primeiros 70 anos da série temporal. A análise realizada por cientistas sobre as potenciais causas do aumento pode contribuir para previsões mais precisas de inundações na bacia Amazônica, a maior hidrobacia do mundo com quase 20% da água doce.
O estudo Intensificação recente dos extremos de inundação da Amazônia impulsionada pela circulação reforçada de Walker foi publicado nesta quarta-feira (19) na revista Science Advances pelos pesquisadores Jonathan Barichivich (Universidade Austral de Chile), Manuel Gloor (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido), Philippe Peylin (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido – França), Roel J. W. Brienen (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido), Jochen Schöngart (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Jhan Carlo Espinoza (Instituto Geofísico del Perú), Kanhu C. Pattnayak (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido).
Registros diários dos níveis de água do rio Amazonas são realizados no Porto de Manaus desde o início do século passado. O grupo de estudo analisou 113 anos de registros dos níveis de água, que revelaram um aumento na frequência de cheias e secas severas nas últimas duas a três décadas. Os resultados demonstraram que houve, na primeira parte do século vinte, cheias severas com níveis de água que ultrapassaram 29 metros (valor de referência para acionar o estado de emergência na cidade de Manaus) aproximadamente a cada 20 anos. Atualmente, cheias extremas ocorrem na média a cada quatro anos.
As mudanças no ciclo hidrológico da bacia Amazônica têm sido graves, com consequências para o bem-estar das populações no Brasil, Peru e outros países amazônicos. Para o pesquisador e integrante do Grupo de Pesquisa do Inpa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (MAUA), Dr. Jochen Schöngart, a ciência deve fazer uso desse conhecimento atualizado para aperfeiçoar modelos existentes de previsão de cheias na Amazônia Central e servir de subsídio para os tomadores de decisão elaborar políticas públicas, já que terão previsões mais robustas e com certa antecedência.
“Isso permite preparar as populações em áreas urbanas e nas regiões rurais para enfrentar consequências de cheias severas que sempre impactam a qualidade de vida dessas populações”, destaca Schöngart. “As pessoas perdem moradia, sofrem várias doenças, serviços básicos como água potável ficam restritos e a pecuária e agricultura são bastante reduzidas nas várzeas resultando em enormes prejuízos econômicos e sociais para essa parte da sociedade”, completou.
De acordo com o Dr. Jonathan Barichivich, da Universidade Austral do Chile e ex-bolsista de pesquisa da Universidade de Leeds (Reino Unido), o aumento de secas severas na Amazônia tem recebido bastante atenção dos pesquisadores. “Entretanto, o que realmente se destaca no registro ao longo prazo é o aumento da frequência e magnitude das inundações. Cheias extremas na bacia Amazônica têm ocorrido todos os anos, desde 2009 até 2015, com raras exceções”, disse.
Conforme o estudo, o aumento do número de enchentes está relacionado à intensificação da circulação de Walker, um sistema de circulação do ar movido pelo oceano originado pelas diferenças de temperatura e pressão atmosférica sobre os oceanos tropicais. Esse sistema influencia padrões climáticos e pluviométricos em toda a região dos trópicos e além.
Mudanças nos oceanos
De acordo com o professor coautor Manuel Gloor, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, esse aumento dramático nas enchentes é causado por mudanças nos oceanos vizinhos, particularmente os oceanos Pacífico e Atlântico e como eles interagem. Ainda segundo Gloor, devido ao forte aquecimento do Oceano Atlântico e ao resfriamento do Pacífico no mesmo período, observou-se mudanças na chamada circulação de Walker afetando a precipitação na Amazônia.
“O efeito é mais ou menos o oposto do que acontece durante um El Niño. Ao invés de causar seca, leva a uma maior convecção e precipitação intensa nas regiões central e norte da bacia Amazônica”, explicou Manuel Gloor.
A causa real do aquecimento do Atlântico não está completamente esclarecida. Além da variação natural, o aquecimento global é, no mínimo, parcialmente responsável, mas de maneira inesperada e indireta, de acordo com o estudo. Como resultado do aquecimento dos gases do efeito estufa, cinturões de vento de média a alta latitude no hemisfério Sul se deslocaram mais ao sul, abrindo uma janela de transporte das águas quentes do Oceano Índico ao redor do extremo sul da África, através da corrente das Agulhas, em direção o Atlântico Tropical.
A pesquisa indica que essas enchentes não cessaram ainda. O ano de 2017, que não foi incluído no estudo, registrou novamente o nível de água acima dos 29 metros. Como é esperado que o Atlântico Tropical continue aquecendo mais rápido que o Pacífico Tropical nas próximas décadas, cientistas esperam mais eventos com alto nível de água. Os resultados desse estudo podem auxiliar a prever a probabilidade de enchentes extremas na Amazônia com antecedência e mitigar os impactos para as populações amazônicas rurais e urbanas.
O estudo é resultado de uma oficina internacional que Schöngart organizou com cientistas da Universidade de Leeds, no Inpa, em janeiro de 2016, para fazer uma abordagem do conhecimento atual sobre as mudanças recentes do clima e da hidrologia na bacia Amazônica.
Foto: Jochen Schöngart/INPA