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3 de novembro de 2018CIÊNCIA| Estudos que mostraram que a Floresta Amazônica é, em parte, uma herança viva dos povos indígenas pré-colombianos renderam à egressa de Doutorado em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTIC) Carolina Levis o 2º lugar na 29ª edição do Prêmio Jovem Cientista. O resultado do prêmio foi anunciado na terça-feira (30), na sede do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTIC), em Brasília.
Levis realizou análises com dois grandes bancos de dados, um com levantamentos arqueológicos e outro com inventários florísticos de vários pontos da Amazônia, e mostrou de forma contundente que a floresta foi transformada e domesticada pelos povos indígenas entre mais de 10.000 anos atrás até a chegada dos europeus – há pouco mais de 500 anos. Os povos indígenas atuais e as populações tradicionais também contribuíram para modificar a floresta e manter o legado dos povos pré-colombianos.
“Estou muito feliz com o reconhecimento! Traz uma grande esperança e motivação para continuar trabalhando pela ciência e conservação”, contou Levis, que já concluiu o doutorado. Para ela, o prêmio foi essencial neste momento de redução de investimentos na ciência. “Com o prêmio ganhei um grande incentivo e uma bolsa de pos-doc para continuar trabalhando pela ciência brasileira qualidade”, completou.
A pesquisadora do Inpa Flávia Costa que orientou a Carolina, também compartilha do sentimento de reconhecimento do trabalho. Um dos motivos é que Carolina será um modelo para as mulheres jovens que podem se permitir sonhar em serem pesquisadoras de alta qualidade.
“Segundo motivo, porque seu estudo mostra como parcerias entre grupos multidisciplinares, entre grandes áreas das ciências como as biológicas e humanas, pode avançar significativamente nosso conhecimento das florestas”, destacou Costa.
Domesticação da floresta
O trabalho dos povos indígenas pré-colombianos permitiu transformar algo desconhecido, a floresta do Pleistoceno, em algo conhecido, a floresta atual. Eles domesticaram em algum grau a natureza que estava ao seu redor. Tiravam plantas de ambiente natural e plantavam perto de casa, de uma forma que serviriam para alimentação, abrigo e outros usos, como aconteceu com a mandioca, castanha do Brasil, açaí e pupunha.
De acordo com o pesquisador do Inpa e coorientador de Levis no doutorado, Charles Clement, Carolina mostrou de forma concreta que a Amazônia é um bioma domesticado, já que perto de um sítio arqueológico qualquer tem mais árvores domesticadas do que longe dele, e tem sítios arqueológicos em toda a Amazônia.
“Isso faz com que a Amazônia seja similar a qualquer outra parte do mundo: Europa, África, Ásia e América do Norte. Todas foram domesticadas antes da expansão europeia. A diferença é que aqui temos a castanha do Brasil”, brinca Clement.
Antes havia um grupo de cientistas que defendia que a Amazônia não tinha sido moldada pelos povos indígenas. Para Clement, esse discurso era mais para evitar transformar a Amazônia em um grande agronegócio e plantio de soja.
Para o coorientador, Carolina é um destaque nacional, já que ela trabalhou arduamente e mereceu muito o prêmio. “Flávia Costa e eu esperamos que esse reconhecimento contribua para mudar o pensamento sobre a conservação na Amazônia. E Para conservar a Amazônia não precisamos tirar as pessoas, mas manter aqui as pessoas que transformaram a floresta”, destacou Clement.
Patrimônio natural-cultural
Segundo Levis, a flora amazônica é, em parte, uma herança viva de seus habitantes, passados e atuais. Os povos amazônicos manejaram as paisagens florestais e sua biodiversidade, cultivando e domesticando uma grande variedade de plantas durante pelo menos 13.000 anos, algumas conhecidas mundialmente, como a castanha, açaí e cacau.
“Com a pesquisa mostramos como as atividades humanas passadas tiveram um papel importante na distribuição de espécies domesticadas encontradas nas florestas atuais, e revelamos que além de ajudarem a desvendar a história humana da maior floresta tropical do Brasil, também são de grande importância para o sustento dos povos atuais”, destaca Levis.
Ainda conforme Levis, as florestas amazônicas devem ser entendidas como um patrimônio natural-cultural. “Para que esse patrimônio persista no futuro, são necessárias ações institucionais integradas que contemplem a conservação da natureza, da cultura e de seus patrimônios (material e imaterial) conjuntamente com participação da população local que possui o conhecimento milenar de como manejá-lo”, afirmou.
João Vitor Campos e Silva, da Universidade Federal de Alagoas, que ficou em 1º lugar na mesma categoria, também já fez parte do Inpa, onde fez mestrado em Ecologia. A pesquisa dele estudou um modelo de recuperação do peixe pirarucu na Amazônia.