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6 de janeiro de 2019CIÊNCIA| Os acervos biológicos mais antigos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) possuem mais de 50 anos e já testemunharam alterações de grande porte na biota amazônica, como a construção das hidrelétricas de Balbina, Tucuruí, Belo Monte e Rio Madeira. Esses acervos trazem o registro da biodiversidade de áreas que nunca mais recuperarão a sua diversidade natural, sendo os únicos testemunhos da existência de várias espécies extintas localmente.
A coleção de formigas do Inpa deve conter pelo menos 15 mil exemplares montados em alfinetes entomológicos, distribuídos em 11 subfamílias das 17 viventes no mundo. Já a parte do acervo em via úmida (em álcool a 80%), possui uma quantidade ainda não calculada de exemplares, podendo chegar a dezenas ou mesmo centenas de milhares.
Desde 2009, um incremento na identificação e classificação da coleção de Formicidae vem sendo realizado pela Dra. Itanna Fernandes, que em 2012, após a obtenção do título de mestre, passou a auxiliar a curadoria. Desde então, a coleção principal recebeu representantes de outras duas subfamílias, Agroecomyrmecinae Carpenter, 1930, e a raríssima subfamília Martialinae Rabeling & Verhaagh, 2008, possuindo hoje em seu acervo 13 subfamílias.
De acordo com Itanna, a subfamília Martialinae é endêmica da região amazônica, possuindo como localidade tipo a região metropolitana de Manaus, e é considerada a espécie mais rara dentro da mirmecologia (ciência que estuda as formigas). A espécie foi inicialmente descrita com base em uma única operária, e mais tarde, devido à visita do pesquisador americano Brendon Boudinot (especialista em machos de formigas), uma série de 25 machos pertencentes à espécie foi descoberta na via úmida da coleção do Inpa, esta, coletada em 1985 por Bert Klein. “A descoberta desses indivíduos tornou a Coleção de Invertebrados do Instituto a maior detentora mundial de representantes da espécie”, contou.
Em dezembro último, Dra. Itanna, com a ajuda do curador e pesquisador do Inpa Dr. Marcio Oliveira e do técnico Francisco F. Xavier Filho, incorporaram à coleção principal outras nove mil formigas montadas em alfinetes, distribuídas em 13 subfamílias. Essas formigas pertencem à fauna brasileira e peruana, obtidas durante as inúmeras expedições científicas realizadas no decorrer do seu mestrado e doutorado. Dentre esses indivíduos, há representantes do gênero Syscia Roger, 1861, até então registrado apenas para a Colômbia e que está em processo de publicação.
Já a coleção de via úmida está recebendo da Dra. Itanna Oliveira e do Dr. Jorge Souza aproximadamente 58 mil formigas provenientes do monitoramento ambiental da Usina de Santo Antônio no Rio Madeira, durante as fases de pré e pós-enchimento do reservatório da hidrelétrica. O monitoramento e o banco de dados obtidos com o estudo foram mundialmente premiados em 2017 pelo Global Biodiversity Information Facility (GBIF) como o melhor banco de dados na categoria Dados Ecológicos, sendo o Inpa o único detentor desse material.
Desde sua criação na década de 1990 (no Programa de Coleções Científicas Biológicas), a coleção de Formicidae não recebe um depósito tão substancial e representativo, tornando-se notável pelas inúmeras visitas científicas, além de pedidos de empréstimos e colaborações. Com a implementação da coleção em via seca e úmida, o Instituto espera uma procura ainda maior pelo acervo, incentivando gerações presentes e futuras no estudo da mirmecofauna.
Fotos: Letícia Misna