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29 de abril de 2019PESQUISA| Com variados tamanhos, cores e formatos, as samambaias que são muito utilizadas na decoração de ambientes agora são usadas por pesquisadores para mapear propriedades dos solos da Amazônia. Abundantes em florestas tropicais, as samambaias foram escolhidas porque cada espécie tem preferência de solo específica.
A espécie Lindsaea lancea, comumente encontrada ao redor de Manaus, por exemplo, prefere solos arenosos e pobres em nutrientes. Já a espécie Cyclopeltis semicordata encontrada, por exemplo no sul do Pará, prefere solos ricos em nutrientes. Estima-se que na Amazônia existam cerca de 550 espécies de samambaias e no mundo são conhecidas cerca de 13.500 espécies.
De acordo com estudo “Making the most of scarce data: Mapping soil gradients in data-poor areas using species occurrence records” publicado recentemente na revista Methods in Ecologyand Evolution, a compreensão da ecologia e distribuição de espécies na Amazônia é dificultada pela falta de bons mapas digitais sobre condições ambientais, como certas propriedades dos solos. Dados de ocorrência de plantas são mais abundantes do que amostras de solo, então pesquisadores da Universidade de Turku (Finlândia), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ambas no Brasil, decidiram aproveitar os dados de ocorrência de plantas, além do solo.
Segundo a Dra. Gabriela Zuquim, colaboradora do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio/Inpa) e pós-doutoranda da Universidade de Turku, gerações de botânicos fizeram expedições à Amazônia e trouxeram espécimes de plantas que são depositados em herbários em todo o mundo, e com o Sistema Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, sigla em inglês) e outros portais online, agora se pode acessar facilmente esses dados.
“Então nós pensamos: talvez possamos usar essas ocorrências aleatórias de plantas para obter estimativas das propriedades do solo, colocá-las junto com os dados realmente medidos do solo e produzir um novo mapa do solo”, explicou Zuquim, que liderou o estudo.
Na Amazônia, a professora Hanna Tuomisto, líder do grupo de pesquisa da Amazônia da Universidade de Turku, e sua equipe coletaram dados de campo sobre samambaias por um longo tempo, para usá-los como indicadores de solos e tipos de floresta na Amazônia. Depois, os pesquisadores agruparam os dados das parcelas amostradas na Amazônia Ocidental pela equipe de Tuomisto e, na Amazônia Brasileira, amostrada por pesquisadores em parcelas do PPBio.
“Com isso, tivemos as informações necessárias para converter os dados de ocorrência de espécies de samambaias em uma estimativa das propriedades do solo em escala Amazônica”, contou Tuomisto, explicando que as samambaias têm uma forte associação com o solo.
Mapeamento
O mapeamento foi baseado em 2,6 mil pontos de amostragem de solo e mais de 30 mil registros de samambaias de bancos de dados digitais. O método consiste em cinco etapas. O primeiro é compilar os dados disponíveis, seguido por determinar as relações espécie-solo. Na sequência, é preciso relacionar os registros das plantas com suas preferências de solos e depois interpolar os valores dos solos estimados usando os registros das plantas. Por fim, tem de validar os mapas com dados independentes. Interpolar é gerar valores para locais desconhecidos, a partir dos valores de locais conhecidos que estejam próximos geograficamente.
A validação usando um conjunto independente de amostras de solo obtidos do projeto Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor), por meio do pesquisador do Inpa Carlos Quesada, sugeriu que o mapa é preciso o suficiente para ser usado como uma camada digital para estudos de distribuição de espécies e modelagem de habitat.
“Isso também é relevante no contexto do aquecimento global. As espécies precisam rastrear áreas climaticamente adequadas, mas elas só serão capazes de se estabelecer se também os solos são adequados. Informações sobre os solos são necessárias para identificar e proteger as áreas adequadas do presente e do futuro”, afirma a colaboradora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Juliana Stropp.
A pesquisadora do Inpa Flávia Costa também participou do estudo e se diz muito feliz com a contribuição que um mapa de fertilidade de solos tem para as pesquisas na Amazônia. “O mapa de fertilidade de solo obtido será relevante em muitas aplicações, além da modelagem de distribuição de espécies. Estudos das respostas dos ecossistemas a mudanças ambientais podem agora incorporar esta importante variável preditora, já que a fertilidade do solo afeta a dinâmica da vegetação e suas propriedades funcionais”.
Fotos: Gabriela Zuquim
Para acessar o estudo:
https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/2041-210X.13178