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3 de junho de 2020A pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, transformou a vida das pessoas. Uma série de orientações e recomendações foram divulgadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS e diversas determinações foram emitidas pelo Poder Público, para o enfretamento à Covid-19.
Conforme se observa nas ruas de Manaus e principalmente com base nos dados estatísticos da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas – FVS e da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas – SUSAM, não foram todas as pessoas que adotaram as indicações ou acataram as advertências para que se evitasse a propagação da doença. Ao contrário do esperado, muitos cidadãos manauaras resistiram às medidas restritivas de combate à Covid-19, ocasionando uma grave crise de saúde pública, ao ponto da cidade ser considerada o epicentro da pandemia no Brasil.
Para entender este fenômeno social, uma das principais referências em comunicação social e jornalismo no Norte e Nordeste do Brasil, a Professora Doutora Marta Rocha, residente na capital amazonense, acompanhada de um corpo de profissionais multidisciplinares, coordena uma linha de pesquisa científica, para compreender a situação e o comportamento cotidiano dos manauaras diante da pandemia sob o aspecto comunicacional.
O objetivo da pesquisadora é tratar sobre os equívocos de comunicação da mídia, as lacunas na comunicação interna e externa do Poder Público, a descontextualização comunicacional frente a realidade da sociedade, o distanciamento da linguagem simples do jornalismo e a falta de estratégias de comunicação no desenvolvimento de campanhas publicitárias.
“São notórias e públicas as medidas propostas para o enfrentamento da Covid-19, que estão insistentemente nas mídias sociais, televisão, rádio e em periódicos digitais e físicos. Os protocolos incluem o isolamento social (quarentena), distanciamento físico, uso de máscara de tecido, principalmente em ambientes públicos e práticas de higienização, como por exemplo, lavar as mãos com água e sabão diversas vezes ao dia, uso de álcool a 70% e limpeza de produtos adquiridos em supermercados. Porém, é preciso lembrar que estes hábitos, não fazem parte do cotidiano das pessoas, e fogem ainda mais da realidade das classes sociais mais baixas, onde se observa que a adesão a estas diretrizes são menores ainda”, observa Marta Rocha.
Para elucidar esta afirmativa, a pesquisadora narra um fato ocorrido na zona leste de Manaus, que chamou bastante a atenção, mas não ao ponto de um redirecionamento de estratégia comunicacional para tornar as medidas de enfrentamento à Covid-19 mais claras e de fácil entendimento para população, circunstâncias que ocasionaram equívocos tragicômicos.
“A palavra de origem inglesa Lockdown, que é utilizada entre outras situações para apontar casos de emergência pública, em que as pessoas, obrigatoriamente, não devem sair de casa para preservar sua segurança, que traduzida de forma livre para o português quer dizer “bloqueio total”, foi empregada indiscriminadamente pela mídia nacional e local, sem que fosse levado em consideração diversos fatores sociais, como por exemplo, o nível de escolaridade e conhecimento da língua estrangeira, ao ponto de uma região da cidade de Manaus, a mais populosa, com mais de meio milhão de habitantes, acabar completamente com o estoque de velas, em todo o comércio da região, após viralizar um áudio através de um aplicativo de mensagem, em que uma pessoa afirmava que toda aquela localidade ficaria em total escuridão por diversos dias. Na verdade, este fato se deu em decorrência de muitas pessoas confundirem a palavra lockdown com blackout, termo também proveniente da língua inglesa, mas que diferentemente do primeiro, é designado para indicar a falta absoluta de luz, normalmente causada pela interrupção do fornecimento de energia, situação esta, que faz parte do cotidiano naquela localidade”, conta a pesquisadora Marta Rocha.
Na pesquisa também foi constatado que, para uma grande parte dos entrevistados, falar em uma doença transmitida por um vírus tão devastador, não aparentava ser algo fácil de se acreditar ou assimilar.
“Neste estudo, observou-se que alguns entrevistados tiveram, a percepção de que o novo coronavírus, era um “mosquito”, pois, já enfrentaram epidemias como a dengue, chikungunya, e a zika vírus, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Devido a amplas campanhas de saúde pública, divulgadas pelas mídias e pela comunicação comunitária, essas epidemias já fazem parte do cotidiano das pessoas entrevistadas, criando erroneamente, uma relação com o novo coronavírus”, relata a pesquisadora.
O estudo coletou dados tão interessantes que a pesquisadora está em fase de elaboração de um livro, que vai dar um panorama da comunicação durante a pandemia em Manaus, com a perspectiva voltada para a informação, cotidiano e saúde pública, para expor os fatores que levaram os manauaras a resistirem a adoção das medidas restritivas ao combate da Covid-19.
“Acredito que a divulgação dos resultados deste estudo será de suma relevância para comunicadores sociais, jornalistas, assessores de comunicação, assessores de imprensa, agentes públicos, agentes políticos e outros segmentos da sociedade interessadas no assunto. Esta pesquisa é uma coletânea de atos e fatos que ficarão marcados na história, e que servirá como embasamento para diversos profissionais encontrarem caminhos e soluções corretas para elaborar um planejamento comunicacional”, encerra Marta Rocha.
Marta Rocha do Nascimento
A pesquisadora é Coach em Empreendedorismo Social e Econômico-Produtivo, Consultora de Marketing e Comunicação em Associações e Cooperativas. Atua como Palestrante e Facilitadora em Workshop e Comunicação Organizacional. É graduada em Comunicação Social (UFPE), Mestra em Administração e Comunicação (UFRPE) e Doutora Livre-Docente em Teologia (FATEAD-SP).