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5 de junho de 2020O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, oficializou representação contra o governo brasileiro, na pessoa do presidente Jair Bolsonaro, junto a entidades internacionais e nacionais, pedindo providências urgentes para evitar a dizimação dos indígenas brasileiros pela pandemia da Covid-19.
As representações foram feitas ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luiz Almagro; ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antônio Guterres; ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz; e ao presidente da Corte Internacional de Justiça, Ronny Abraham.
As correspondências enviadas pelo prefeito evidenciam o avanço do novo coronavírus nas populações indígenas, principalmente do Amazonas, e a falta de medidas, por parte do governo federal, que assegurem aos indígenas o acesso aos meios de tratamento e cura da doença.
“A Covid-19 ameaça a saúde dos nossos ancestrais, adoecendo e matando um povo vulnerável e imensamente suscetível à força e às consequências dessa grave pandemia, uma vez que são desprovidos de estruturas mínimas que assegurem o diagnóstico precoce e o tratamento”, alerta Virgílio, que tem se posicionado de forma veemente em favor da população de Manaus, do Amazonas e, especialmente, dos povos tradicionais que habitam a Floresta Amazônica.
O mapeamento do Instituto Socioambiental (ISA) releva que o Amazonas registra 693 casos de Covid-19 entre indígenas, dos quais 40 foram a óbito. Do total de confirmados, cem vivem nas comunidades indígenas de Manaus, registrando três óbitos.
Os dados foram atualizados nesta quinta-feira, 4/6, e estão disponíveis no site https://covid19.socioambiental.org/. Por outro lado, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde (MS), que monitora os indígenas aldeados do Amazonas, o Estado possui 626 confirmados e 34 óbitos entre essa população.
Para o prefeito de Manaus, torna-se evidente a omissão do presidente Bolsonaro diante do grave contexto de pandemia, sobretudo aos povos indígenas, pelo momento crítico pelo qual passa a Sesai, enfrentando sucateamento por parte do governo federal.
“O presidente Jair Messias Bolsonaro é dissociado dos princípios humanitários que mandam resguardar a vida e seus povos tradicionais. Ele desdenha do vírus e das dezenas de milhares de vítimas que, em razão dele, já sucumbiram. É omisso, e, por conseguinte, responsável indireto pela dizimação de brasileiros e dos povos indígenas”, afirma.
Diante desse quadro e para garantir atenção e cuidado em saúde aos povos tradicionais da região, a Prefeitura de Manaus colocou uma Unidade Básica de Saúde (UBS) Fluvial singrando comunidades ribeirinhas, com estimativa de que, ao menos, 4.000 pessoas, de 40 comunidades, sejam atendidas em nove dias de viagem. Entre os serviços oferecidos, além de testes para a Covid-19, estão atendimentos médicos, pré-natal, entrega de medicação, vacina contra a influenza, exames de gravidez, testes de HIV e sífilis, entre outros. A equipe conta com 14 profissionais de saúde, incluindo médico, enfermeira, técnicos de enfermagem e farmacêutico.
Na área urbana da capital amazonense, outras duas UBSs Móveis estão em ação na comunidade Parque das Tribos, localizada no bairro Tarumã, zona Oeste, que reúne 700 famílias de 35 etnias, e na comunidade Wotchimachü, localizada no bairro Cidade de Deus, zona Leste, com grande número de famílias da etnia tikuna. Os casos confirmados de Covid-19 entre os indígenas dessas duas localidades estão sendo encaminhados ao hospital de campanha municipal Gilberto Novaes, que possui uma ala específica para indígena e já contabiliza mais de 20 altas médicas de índios, de diversas etnias, curados da doença.
Em pouco mais de 50 dias de atuação, a unidade que foi montada em uma escola da prefeitura que estava pronta para ser inaugurada, em parceria com o grupo Samel e instituto Transire, registra quase 500 pacientes curados da Covid-19. O hospital conta, atualmente, com 180 leitos ativos, sendo 39 destinados à Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Não podemos, calados e passivos, presenciar e permitir o extermínio da cultura indígena, por isso venho clamar pela intervenção, em favor da saúde e da sobrevivência das comunidades indígenas milenares do meu país”, apela o prefeito Arthur Virgílio às autoridades. “Faço deste documento uma representação em desfavor do presidente da República Federativa do Brasil, senhor Jair Messias Bolsonaro, em face de suas seguidas omissões e descasos no enfrentamento à Covid-19. E, em razão de suas ações, não raro, equivocadas e prejudiciais aos brasileiros em geral e, especialmente às etnias indígenas de cerca de 10 mil anos de história”, finaliza.
‘SOS Amazônia’
Durante o agravamento dos casos de Covid-19 em Manaus – que resultou no colapso dos sistemas de saúde e funerário, registrando mais de cem enterros diários – e perante à inercia e à falta de estratégias eficazes de apoio ao enfrentamento da doença por parte do governo federal, o prefeito Arthur Virgílio Neto deu início a um movimento mundial, para expor a situação da capital da Amazônia ao país e ao mundo, com o intuito de buscar auxílio de equipamentos, médicos, medicamentos e para sensibilizar a todos quanto à importância da região e dos protetores da floresta.
A campanha “SOS Amazônia” ganhou força na voz da ativista ambiental sueca Greta Thunberg, juntamente com mais 12 ativistas climáticos de diferentes lugares do mundo e que fazem parte do movimento Fridays for future. “Sabia que Greta iria responder de forma madura e sou muito grato pela sensibilidade desses jovens, que pensam no futuro do planeta e sabem da contribuição da nossa floresta para a questão climática. Espero que os líderes mundiais possam nos ajudar a salvar a vida dos defensores da floresta”, disse Arthur Neto, ao receber a resposta da ativista.
O prefeito também oficializou pedido de ajuda, por meio de vídeo e cartas, às embaixadas de países ricos, defendendo que, durante décadas, o Amazonas cumpriu um papel importante para a saúde do planeta, preservando 96% da Floresta Amazônica localizada no seu território.
Fotos – Márcio James e Mário Oliveira / Semcom