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24 de junho de 2020Por Martha Rocha
OPINIÃO| Na pesquisa que estamos desenvolvendo para compreender a situação e o comportamento cotidiano dos manauaras no enfrentamento à Covid-19, encontramos um viés de explicação sobre os reflexos da pandemia no cotidiano de consumo. O cotidiano é o espaço onde o indivíduo concretiza suas interações sociais.
A vida cotidiana é a vida de todo dia, dos mesmos gestos, ritos e ritmos, a vida “normal”. O cotidiano sofreu uma intervenção brusca, nos arriscamos a dizer que o cotidiano foi interrompido. Ir à escola, ao trabalho, à igreja, ler o jornal, assistir televisão, passear, ir as compras, atos realizados no cotidiano comum, que pautavam o dia a dia das pessoas, passou por uma profunda transformação.
Todo indivíduo participa de quatro cotidianidades, que não são excludentes, mas que se complementam e podem acontecer simultaneamente: a doméstica, a do trabalho, a da cidadania e a da mundialidade, atos que se intercambiam e se interpenetram, que foram totalmente reconfigurados a partir da Covid-19.
Apesar de todas as campanhas de saúde pública e das mensagens midiáticas, as medidas restritivas difundidas há mais de 3 meses, indicam que não houve uma aceitação social tranquila, as pessoas precisam reconverter intencionalmente o seu modo de ser e de estar na sociedade. Pois, a mudança de hábitos e costumes exige tempo e adoção de variadas metodologias e estratégias.
A quarentena que faz parte do protocolo de enfrentamento à Covid-19, pode ser considerada, como a maior mudança social da vida de toda a população brasileira, o isolamento social causou, e ainda causa, um estranhamento no cotidiano, uma vez que, interrompeu bruscamente a vida como ela era e exigiu das pessoas uma reinvenção da vida “normal”, uma reinvenção do cotidiano.
A flexibilização da quarentena nos provou que a hashtag #FICAEMCASA , nunca foi aceita, ou não obteve a adesão tão desejada. Bastou abrir uma parte do comércio para as pessoas irem para as ruas. Aglomerações por toda a parte. Na zona norte e leste de Manaus, observamos um aumento significativo do número de pessoas nas ruas, pois para essas duas áreas nunca houve quarentena de fato.
As pessoas consomem para atender a necessidades muito mais simbólicas que materiais. O consumo é o lugar de diferenciação simbólica, por meio não só do que se consome, mas sobretudo, dos modos de consumir.
Apesar da flexibilização do isolamento social exigir uma série de medidas restritivas, como o uso de máscaras nas ruas, o estabelecimento de distanciamento social, e um número limite para entrar em estabelecimentos comerciais, ou seja, a “vida” não voltou a sua “normalidade”, grande parte dos manauaras aparentavam satisfação em poder sair de casa.
Percebemos que, na sociedade contemporânea, a maior parte do tempo não é passado dentro de casa, só com a família, para maioria das pessoas a vida acontece no ambiente exterior, no trabalho, na escola ou com os amigos. Assim, as formas de reprodução da vida cotidiana se tornaram de múltiplas fontes. Mas é fato que elas continuam se reproduzindo e caracterizando as ações e pensamentos que compõem a particularidade da vida cotidiana de cada um e de todos.
Para adotar o protocolo de enfrentamento à Covid-19, mesmo com a flexibilização do isolamento social, as camadas mais populares da capital amazonense, precisarão reconverter intensionalmente, as formas de viver, o seu dia a dia, no cotidiano do trabalho, do consumo, do lazer, do vestuário, enfim assimilar novos hábitos e costumes.
Marta Rocha do Nascimento
A pesquisadora é Coach em Empreendedorismo Social e Econômico-Produtivo, Consultora de Marketing e Comunicação em Associações e Cooperativas. Atua como Palestrante e Facilitadora em Workshop e Comunicação Organizacional. É graduada em Comunicação Social (UFPE), Mestra em Administração e Comunicação (UFRPE) e Doutora Livre-Docente em Teologia (FATEAD-SP).