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15 de agosto de 2020O jornalista, escritor e editor Mário Bentes, 36, é um dos semifinalistas da terceira edição do Prêmio da Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (ABERST).
O autor concorre na categoria “conto policial” com a história “A volta de Max Headroom”, publicada na coletânea “Creepypastas: lendas da internet – volume 3”. O anúncio dos finalistas e vencedores acontece no dia 2 de setembro.
“É a primeira vez, em três edições, que fiz a inscrição, mesmo tendo produzido material em anos anteriores. Fiquei feliz de ter meu conto entre os semifinalistas dentre tantos ótimos autores nacionais. A associação faz uma análise criteriosa do material submetido e acredito que será uma decisão final difícil para o júri especializado. Mas para mim já é uma vitória estar entre os indicados”, afirma o escritor Mário Bentes, que também é editor-chefe da editora Lendari, que publicou a coletânea “Creepypastas”.
O presidente da ABERST, o escritor e editor Tito Prates, afirma que a edição 2020 da premiação registrou, no total, 180 inscrições de todo o país – o que representa a soma de participantes das duas primeiras edições. De acordo com ele, o anúncio dos semifinalistas não estava previsto em edital e também foi uma decisão inédita em relação às edições anteriores. Tito explica que foi uma forma da associação reconhecer o crescimento da qualidade dos originais inscritos.
“A própria divulgação de semifinalistas do prêmio ABERST da edição desse ano, o que não acontecia nos anos anteriores, foi um reconhecimento da ABERST ao grande número de inscritos. Foram mais de 180 trabalhos, o que superou a soma dos dois anos anteriores, juntos, e também pela alta qualidade dos trabalhos que chegaram. Foi bem difícil a seleção desses semifinalistas e dos finalistas. Ainda vai dar muito trabalho para conseguirmos tirar três finalistas em cada categoria”, explica o presidente.
Conto baseado em caso real
O conto “A volta de Max Headroom” é baseado no caso real de uma invasão na transmissão dos sinais de televisão da cidade de Chicago, nos Estados Unidos, em 1987. Na noite do dia 22 de novembro daquele ano, o Channel 9 teve seu sinal interrompido por uma transmissão misteriosa e sem sentido com um homem de terno e usando máscara de borracha que imitava as feições de Max Headroom, considerado o primeiro apresentador de televisão gerado por computador, em 1985.
Na realidade, o personagem de Max não era eletrônico, mas uma pessoa real – o comediante Matt Frewer – com rosto maquiado com próteses de borracha. Ele apresentava um programa que trazia as aventuras de um jornalista vivendo em um mundo distópico, mas com teor sarcástico e de humor. O programa teve onze temporadas até ser cancelado e substituído pelo seriado “Miami Vice”.
O “hacking” na noite de 22 de novembro de 1987 durou poucos minutos, mas duas horas depois, outra emissora – o Channel 11 – foi alvo do mesmo “ataque”. Nesta segunda invasão, a transmissão foi interrompida por mais tempo, e o invasor teve tempo suficiente para dizer frases aparentemente aleatórias e sem sentido, mas fazendo referências a pessoas reais da política dos Estados Unidos.
O “pirata da televisão”, como ficou conhecido na época, foi o responsável por uma investigação federal sem precedentes envolvendo órgãos regulamentadores do espectro de teletransmissão em todo o país, o FBI e órgãos de inteligência. Dias depois, o responsável – um técnico de antenas que trabalha em uma empresa que prestava serviços para diferentes emissoras – acabou multado e preso, mas logo liberado em condicional.
Ficção especulativa
Em sua versão do caso, Mário Bentes narra um novo hacking das emissoras de Chicago, anos depois do primeiro, com uma série de reviravoltas que colocam em cheque a identidade real do invasor e as próprias autoridades.
“Usei enredo de ficção especulativa com narrativa policial para criar uma trama curta com uma versão extraoficial do caso. Acredito que tenha um final satisfatório para quem gosta de histórias de investigação e crimes”, explica Mário Bentes.
No mesmo projeto de “Creepypastas”, o autor usou a mesma técnica de reescrever casos reais usando o famoso vídeo – oficialmente considerado falso – da necrópsia de um extraterrestre, divulgado no Brasil pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo, nos anos 90.
“Em minha versão, conto os bastidores da gravação, por meio do depoimento em primeira pessoa do médico oficial das Forças Armadas dos EUA que fez o procedimento, dando a entender que tudo era de fato uma situação real”, conta Bentes.