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15 de setembro de 2020A ocorrência de um vírus altamente contagioso e potencialmente letal para golfinhos será investigada em botos-vermelhos (Inia geoffrensis) da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM). Em 2017, a doença morbilivirose provocada pelo morbilivírus dos cetáceos (CeMV) causou a morte de mais de 200 botos-cinza (Sotalia guianensis) das baías de Ilha Grande e Sepetiba, no Rio de Janeiro. A mortandade desses animais foi o primeiro registro na América do Sul.
O estudo será realizado pelo Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), e liderado pela bolsista do Programa de Capacitação Institucional do Inpa/CNPq, Daniela Mello, médica veterinária com doutorado em ciência animal (USP). O trabalho foi um dos 17 selecionados de 56 propostas enviadas para receber o financiamento do Small Grants in Aid of Research da Sociedade de Mastozoologia Marinha (EUA). A pesquisa tem o prazo de execução de um ano.
O objetivo do estudo é investigar a exposição dos botos ao vírus, por meio da pesquisa de anticorpos neutralizantes contra o CeMV. Segundo Mello, serão investigadas mais de 700 amostras de botos coletadas ao longo de 21 anos do Projeto Boto do Inpa, que é coordenado pela pesquisadora Vera da Silva. Os animais que estiveram expostos ao vírus devem conter anticorpos contra a doença na corrente sanguínea. A análise laboratorial das amostras triadas no Inpa será feita na USP e o resultado analisado por Mello.
“Esses anticorpos podem ser detectados no soro destes animais, por meio de um teste de neutralização viral para uma cepa que foi recentemente descrita em golfinhos no Brasil”, explicou Mello, que coordena no âmbito do PCI o projeto Estratégias para o monitoramento da saúde de mamíferos aquáticos da Amazônia, financiado pelo Edital Universal da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
A ocorrência do morbilivírus de cetáceos não foi investigada nos golfinhos da Amazônia até o presente. Mas a degradação ambiental tem um efeito deletério não apenas para a biodiversidade, podendo também promover a emergência de doenças com características epizoóticas, aquelas que ocorrem ao mesmo tempo em vários animais de uma região.
“A possibilidade de monitoramento, investigação e de projeção da ocorrência de doenças é um dos pontos-chave para a conservação e manejo de populações de cetáceos, especialmente em se tratando de espécies ameaçadas como o boto-vermelho”, destacou Mello, lembrando que não há tratamento para a morbilivirose, principalmente para animais de vida livre.
O boto-vermelho é uma espécie classificada como em perigo de extinção e está na lista vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Pesquisas realizadas pelo Inpa mostram que desde 2000 a população de botos na RDS Mamirauá, uma área protegida, reduz drasticamente a cada década. Os botos-vermelhos e tucuxis sofrem ameaças principalmente pela captura direta, captura acidental em redes de pesca e a fragmentação de populações pela construção de barragens hidrelétricas.
Projeto Boto
O Projeto Boto do Inpa atua na RDSM desde 1994, monitorando uma população de boto-vermelho e de tucuxi, visando aumentar o conhecimento sobre essas espécies de golfinhos fluviais. Segundo a coordenadora do Projeto, a pesquisadora Vera da Silva, o conhecimento da biologia e dos aspectos sanitários das espécies é vital para a sua conservação.
“A pressão antrópica na região Amazônica vem aumentando exponencialmente, e associada a diversos poluentes, alteração ambiental e inúmeras ameaças, afetam não só na deterioração da qualidade do ambiente aquático como também na saúde desses golfinhos. Assim, com esses estudos teremos uma ideia das doenças que podem acometer esses animais”, destacou Silva.