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22 de novembro de 2020Áreas alagadas periodicamente pelos rios de água branca, as várzeas amazônicas são importantes para agricultura, criação de gado, pesca, extração madeireira, além de seu valor ecológico, como alta biodiversidade e estocagem de água. Este rico ambiente, sua ocupação, usos e possibilidades é “solo fértil” para livro publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) intitulado Várzeas Amazônicas: Desafios para um Manejo Sustentável.
O livro marca as comemorações dos 50 anos do convênio bilateral entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Brasil, e a Sociedade Max-Planck (MPG), da Alemanha, em estudos de Áreas Alagáveis. A colaboração foi estabelecida no início dos anos 1960, mas foi oficializada em 28 de maio de 1969 e liderada por Djalma Batista, então diretor do Inpa, e Harold Sioli, do Instituto Max-Planck de Limnologia, por parte da Alemanha.
A obra é assinada por 21 autores, que escreveram os 14 capítulos. Entre eles estão renomados cientistas que editaram a publicação: Wolfgang Junk, Maria Teresa Fernandez Piedade, Florian Wittmann e Jochen Schöngart. Os quatro são vinculados ao convênio Inpa/Max-Planck “Áreas Alagáveis” e possuem uma vasta experiência e conhecimento acumulado por décadas sobre as várzeas e outros ecossistemas amazônicos e tropicais. A apresentação da obra foi escrita pela atual diretora do Inpa, a pesquisadora Antonia Franco, e pela diretora do Instituto Max-Planck de Biogeoquímica (MPI-BGC) Susan Trumbore.
“Esperamos que a divulgação deste conhecimento acumulado e sintetizado no livro alcance e garanta a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos e a melhoria da qualidade de vida das populações humanas que habitam as várzeas desde os períodos pré-colombianos”, destaca a pesquisadora do Inpa Maria Teresa Fernandez Piedade, coordenadora do convênio pelo lado brasileiro.
A obra sobre as várzeas amazônicas trata ainda da ecologia, do clima, da hidrologia, da qualidade dos solos e da água, da vegetação herbácea e lenhosa e do aproveitamento pela agropecuária, pela exploração madeireira e pela pesca para esses ecossistemas. É possível encontrar uma análise dos prós e contras das diferentes atividades, avaliando os impactos para o meio ambiente e propondo modelos de aproveitamento mais harmônicos dos recursos naturais, em nível técnico e político-administrativo.
O livro leva a chancela da Editora Inpa. É voltado para acadêmicos, políticos, planejadores, administradores e público com interesse em conhecer mais sobre essas áreas. A versão digital está disponível para download no Repositório do Inpa. Acesse aqui. A versão impressa da obra estará disponível em breve.
Manejo Sustentável
A várzea é formada por um mosaico de diferentes tipos de florestas alagáveis (macrohabitats), responsáveis pela enorme biodiversidade desses ecossistemas. O elevado número de espécies de árvores desses ambientes e sua vegetação herbácea oferecem habitat e alimento para muitas espécies de peixes, pássaros, anfíbios, répteis e mamíferos e para organismos terrestres que vivem no solo da floresta e periodicamente ou permanentemente na copa das árvores.
Para os editores, a alta diversidade dos macrohabitats tem que ser mantida pelos diferentes sistemas produtivos. “Assim, a preservação em consonância com o manejo sustentável da floresta de várzea é um grande desafio, porque uma vez destruída, a floresta de várzea vai necessitar séculos para se recuperar”, destacam os pesquisadores.
Ainda segundo os editores, para melhorar a eficiência dos diferentes sistemas de produção, projetos pilotos são necessários, combinando desenho experimental científico com execução orientada na prática, conforme é discutido em capítulos específicos da obra. Para isso acontecer, segundos os pesquisadores, é fundamental a intensiva cooperação entre instituições científicas, os diferentes grupos de usuários e os governos dos estados.
“Essa integração permitirá a viabilidade econômica, um baixo impacto ambiental e uma elevada aceitação social, aumentando a produtividade da terra e do trabalho, além de justificar economicamente o melhoramento da infraestrutura na várzea, para o bem da população local.
Cooperação Científica
Em 2019 foi comemorado os 50 anos da Cooperação Inpa/Max-Planck da Alemanha, acordo que no decorrer das décadas foi firmado com vários Institutos da Sociedade Max-Planck, representada pelos Institutos Max-Planck de Limnologia (MPIL) em Plön (1969-2007), Química (MPIC) em Mainz (2008-2017) e Biogeoquímica (MPI-BGC) em Jena (desde 2018).
A cooperação é uma referência internacional, além de ser a mais longa cooperação científica do Brasil entre os dois países. Os trabalhos produzidos expandiram o conhecimento sobre as formas de uso sustentável das áreas úmidas amazônicas e brasileiras, permitindo a manutenção de sua integridade e a melhoria da qualidade de vida das populações humanas que as habitam.
Outro resultado importante da colaboração é o significativo contingente de profissionais especializados formados em estudos de áreas úmidas, atuando em diversas instituições do Brasil e do mundo. Para ampliar a socialização desse conhecimento com crianças, jovens e adultos, o grupo vem utilizando diversos meios (escritos e mídia), além de participação em eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
Atualmente as atividades do Convênio Inpa/Max-Planck “Áreas Alagáveis” são voltadas ao entendimento da dinâmica e da multiplicidade de funções e relevância das áreas úmidas amazônicas. O grupo desenvolve estudos da ecologia, ecofisiologia e composição de espécies desses ambientes, sua tipificação, monitoramento e avaliação continuada.
As áreas úmidas cobrem cerca de 30% da região amazônica e muitas delas vêm sofrendo impactos antrópicos de diversas magnitudes, além de impactos derivados das mudanças climáticas. “Então, os estudos desenvolvidos no âmbito da cooperação são cada vez mais relevantes, e sua continuidade fundamental para a sociedade e para a formulação de políticas públicas para uso e restauração adequados das áreas úmidas”, destacou o pesquisador do Inpa Jochen Schöngart.
Editores
Prof. Dr. Wolfgang J. Junk, líder emérito do Grupo de Trabalho Ecologia Tropical do Instituto Max-Planck de Limnologia, Plön, Alemanha. Colaborador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) atuando no grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas). De 2008 a 2015 foi colaborador da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus. Desde 2009 é coordenador científico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá. Tem ampla experiência em ecologia e manejo de áreas úmidas
Profa. Dra. Maria Teresa Fernandez Piedade, bióloga. Doutora em Ecologia. Pesquisadora Titular Inpa, onde lidera o grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas). Tem experiência na área de ecologia de áreas úmidas e seu manejo sustentável, com ênfase em macrófitas aquáticas, florestas alagáveis, produção primária e interações entre organismos. Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), atualmente pesquisadora Nível 1A do CNPq e membro de vários comitês de órgão públicos.
Prof. Dr. Florian Wittmann, geógrafo. Pesquisador do Karlsruher Institut für Technologie – KIT, Alemanha, onde lidera o Departamento de Ecologia em Áreas Úmidas do Instituto de Geografia e Geoecologia. Integrante do grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas), com experiência na área de ecologia e manejo sustentável de áreas úmidas, em particular sobre a distribuição e diversidade de florestas alagáveis.
Prof. Dr. Jochen Schöngart, doutor em Ciências Florestais. Pesquisador Titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) atuando no grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas) com experiência na área de clima, hidrologia, ecologia e manejo florestal de áreas alagáveis, em particular com aplicações dendroecológicas. Membro do Painel Científico para Amazônia (Science Panel for the Amazon – SPA) e de outros comitês científicos e atualmente pesquisador do CNPq – Nível 1D.