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23 de janeiro de 2021Por Luiz Valério*
O cantor e compositor roraimense Neuber Uchoa faz aniversário neste mês de janeiro e comemora seus 62 anos de muito talento, música e poesia com uma festa para amigos, artistas e amantes da cultura.
O artista realizará a “Live do Niver”, a partir das 13h (14h, Brasília), neste sábado (23/01), transmitida em suas redes sociais oficiais: facebook.com/NeuberUchoa e no Toutube.com/casadoneuber. O show contará com a participação especial de Amauri Gomes e Liber Uchôa. Quem quiser colaborar, o cachê é espontâneo. Seguem os dados bancários: Banco do Brasil, Agência: 4263-3 e Conta- corrente: 21668-2.
Com influência direta da música caribenha e nordestina, Neuber, juntamente com Eliakin Rufino e Zeca Preto, compõe o trio sagrado da música regional de Roraima, responsável pelo movimento musical que no início dos anos 80 e 90 ficou conhecido como Roraimeira.
O cantor e compositor regional viveu intensamente cada ano da sua juventude e logo aos 18, compôs “Arrasta-te”, uma das músicas que, do seu rico repertório, é uma das mais apreciadas pelo público. A canção teve como inspiração um colega hanseniano, “estranho e grosso pra cacete”, que pegava o ônibus com ele todos os dias. Como bom poeta que é, as criações de Neuber nascem sempre a partir de uma vivência pessoal, numa espécie de crônica poética da vida. Foi assim também com Ave e com “Cruviana”, outro momento memorável da sua carreira.
Neuber não é do tipo de cantor que usa a tristeza como mola propulsora para a criação. Diz que não gosta de cantar chifre nem dor de cotovelo.
“Eu não gosto de cantar tristeza. Eu gosto de cantar alegria”, afirma.
Nosso artista é um trabalhador braçal da cultura. Ele não acredita apenas em inspiração, mas em trabalho duro, dedicação.
“Se a inspiração chega e não te encontra trabalhando, ela vai embora”, filosofa.
Disso ele entende bem, pois começou a cantar aos três anos de idade, incentivado pela mãe, logo que começou a falar e a compreender minimamente o mundo. Apaixonado pelas músicas caribenhas que ouvia no rádio, depois que a única rádio de Boa Vista – A Rádio Roraima – saía do ar às 23h, buscou a profissionalização e, no final da adolescência, com a composição de Arrasta-te, mostrou que estava pronto para o estrelato musical na Região Norte.
Na década de 1960, Neuber viveu quatro anos no Rio de Janeiro e foi influenciado diretamente pelo liberalismo artístico e cultural, assim como pelas curvas das montanhas e mulheres cariocas. Tanto assim, que compôs 40 músicas neste tempo, o que dá uma média de 10 músicas por ano. Período criativo muito fértil, diga-se. Depois de passar por outros estados brasileiros, como o Ceará, Neuber voltou para Roraima, já consciente do que queria, e não demorou para o encontro com os parceiros Eliakin Rufino e Zeca Preto, evento que mudaria sua vida para sempre.
No bucólico ano de 1984, ele compôs Nossa Bossa, sua primeira música de caráter regionalista. Coincidentemente, ou não, naquele mesmo ano, Eliakin e Zeca também lançam suas primeiras composições regionais. Foi quando eles decidiram juntar seus talentos e embarcaram na criação do Trio Roraimeira, uma espécie de movimento tropicalista roraimense. Foi sensacional. A partir dali a cena musical de Roraima nunca mais seria a mesma.
Casinha de Abelha é uma das mais lindas composições da música do Norte do Brasil. Neuber diz que a criação foi um divisor de águas em sua carreira.
“Nessa época, eu queria fazer uma música com função mais didática, no que diz respeito a explicar o nosso regionalismo. Foi uma fase da minha vida em que eu já havia me assumido como romântico. Essa música traduz o caráter da nossa Roraimeira”, afirma.
São muitas as histórias. A música Cruviana, por exemplo, uma das mais bonitas e emblemáticas criações de Neuber Uchôa, foi composta em dois momentos. Ele conta que escreveu os primeiros versos da canção e ficou se achando pretencioso demais.
“Muito prazer, estou aqui pra dizer / Que canto pra minha aldeia, sou parte da teia / Da aranha sou par /E como o rio que me banha e que te manha / É branco do mesmo trigo / Eu sou o cio da tribo / E posso até fecundar”.
“Quando eu terminei essa parte da letra, eu mesmo me assustei, pois achei até arrogante da minha parte. Como é que eu vou provar pra esse povo que eu sou o cio da tribo? E ainda por cima posso até fecundar? Eu fiquei refletindo sobre isso durante muito tempo. Passei muito tempo deglutindo essa história. Depois de uns seis meses, eu tive o insight de usar os pronomes meu, minha, teu tua. Eu tive essa ideia e saí escrevendo e tocando e assim terminei a música. Neste ano, essa composição faz 30 anos”, conta.
São muitos anos de criações memoráveis e história. Depois da fase “eu preciso aprender a ser pop” que, inclusive, é o nome de um disco seu, Neuber diz ter compreendido, forçado pelo isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, que compreendeu “a necessidade de aprender a ser digital”.
Nos primeiros meses da pandemia, ele passou a fazer lives pela Internet, todos os domingos. Agora, diz estar se preparando para inserir o digital em definitivo em sua carreira. Dos muitos discos que gravou, apenas três estão nas plataformas digitais. A ideia, diz ele, é disponibilizar tudo na Internet.
*Jornalista e escritor roraimense. Edita o Blog do Luiz Valério e os podcasts Direto ao Ponto e Macuxicast.