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25 de fevereiro de 2021A praça Dom Pedro II, localizada no centro histórico da capital amazonense, abrigará o Memorial Necrópole de Manaus, um projeto da Prefeitura de Manaus em homenagem às populações tradicionais, dedicado aos povos ancestrais que estão sepultados na praça. A iniciativa atende a uma antiga reivindicação de indígenas, de diferentes etnias, que acompanham as pesquisas arqueológicas na área.
Um grupo de trabalho montado pela prefeitura, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), Conselho Municipal de Cultura (Concultura) e representantes indígenas, foi criado nesta quarta-feira, 24/2, com a missão de elaborar o projeto de fundação do Memorial no perímetro da praça.
Na tarde desta quarta, o prefeito David Almeida também esteve na praça Dom Pedro II e conheceu o projeto.
“Um memorial em respeito à importância dos povos indígenas e tradicionais que povoaram a cidade e iniciaram nossa trajetória. Toda a população de Manaus precisa visitar esse local para conhecer nossa origem, nossa história e defendê-la”, ressaltou o prefeito.
O diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, fez questão de ressaltar a priorização de projetos que envolvem a memória da cidade, como produtos de alto valor cultural e turístico.
“A população local e mundial precisa ter o conhecimento e consciência do valor cultural e espiritual desse local, onde foi fundada nossa metrópole amazônica”, destacou Alonso.
Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), João Paulo Barreto Tukano se emocionou ao falar sobre o projeto. Barreto é um dos representantes do movimento indígena e da academia que reivindicam o reconhecimento da área como sagrada, uma necrópole histórica, e agora integra o grupo de trabalho.
“Nesse momento, estamos reunidos em cima de um grande cemitério indígena, de nossos antepassados, e precisamos ter o devido respeito aos nossos povos originais que merecem o resgate da memória e importância histórica pelo que significam no nosso processo civilizatório”, relatou o indígena.
O grupo de trabalho foi convocado pelo presidente do Concultura, Tenório Telles, e conta com membros do conselho, Manauscult, Centro de Arqueologia de Manaus (CAM) e da associação indígena Yepemahafa dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro.
“Uma sociedade que não valoriza sua memória é uma sociedade que cai no esquecimento e na ignorância. Daí ser esse um dos fundamentos do Conselho de Cultura, em parceria com a Manauscult”, afirmou Telles, destacando que essa ação está no escopo do trabalho da gestão atual para resgatar e preservar a memória ancestral da cidade de Manaus e do Estado do Amazonas.
Projeto Necrópole
O Memorial Necrópole de Manaus será um marco do verdadeiro início do processo civilizatório da cidade de Manaus, com os vestígios desse cemitério indígena, que data de mais de três mil anos, e consistirá em uma placa e monumento marcando e informando o local para a visitação pública e realização de cerimônias religiosas das muitas etnias que habitam o Amazonas.
Um projeto de lei criando o memorial será encaminhado à Câmara Municipal de Manaus (CMM), para aprovação dos vereadores, e, se aprovado, o local será inaugurado no dia 19 de abril, quando se celebra o Dia do Índio.
O memorial é resultado de pesquisas arqueológicas, que datam desde registros de 1860, com a pintura de uma urna funerária feita pelo naturalista francês Paul Marcoy, em Manaus. Já na década de 1950, têm início às pesquisas com o arqueólogo alemão Peter Paul Hilbert.
A confirmação do sítio indígena veio no início da década de 1960, quando Hilbert e o historiador Mário Ypiranga Monteiro resgataram uma urna entre a praça e o edifício do Iapetec. Em 2002, na obra de reforma da praça Dom Pedro II, com as escavações arqueológicas lideradas pelo arqueólogo Eduardo Neves, da Universidade Federal de São Paulo (USP), foram encontradas mais de 300 urnas funerárias.
No centro de Manaus também foram encontrados vestígios arqueológicos na igreja da Matriz, na avenida Eduardo Ribeiro e na praça Adalberto Valle, mas essas áreas não foram cadastradas como sítio.
Fotos – Walter Barbosa / Concultura