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17 de maio de 2021Pouco mais de um ano depois do aparecimento do novo coronavírus, o isolamento social tem causado impacto na vida das pessoas, trazendo à tona dilemas e questões normalmente esquecidas no cotidiano. Nesse contexto, a busca pela filosofia e por respostas a respeito do sentido da vida aumentaram: a palavra “filosofia” associada a “ideal” registrou aumento de 400% no último ano, segundo o Google Trends. Outros termos ligados à “concepção filosófica” e “importância dos mitos para a humanidade” registraram aumento repentino, o que significa que o volume de pesquisas cresceu em mais de 5000%.
“O que devemos atender primeiro? A saúde física, a econômica, a psicológica ou a mental? Na nossa solidão, distantes da rotina diária que mantém o nosso tempo preenchido e o coração vazio, podemos tomar consciência de que esse conflito está dentro de nós mesmos”, afirma o professor Luís Carlos Marques Fonseca, diretor-presidente da Nova Acrópole Brasil Norte.
À frente da instituição dedicada à filosofia, ele aponta que o contexto de incertezas vivenciado atualmente reflete em angústias como o medo de perder a vida física, devido ao vírus; de não dispor de alimentos; o desespero por estar fechado dentro de casa; além de sentimentos de confusão e pensamentos circulares.
“Isto nos coloca frente à questão: seria a dimensão humana da Vida isso, algo sem sentido, tão somente ‘suportável’ e do qual fugimos mantendo-nos sempre ocupados com atividades de lazer ou produtivas?”, indaga.
As causas deste “senso comum” têm raízes na história do pensamento ocidental, segundo o professor Luís Carlos Marques Fonseca. Exemplo disso está na interpretação que as sociedades perpetuaram ao longo do tempo a respeito do pensamento do filósofo francês René Descartes (1596 – 1650). A famosa frase “Penso, logo existo” é na verdade “Penso, logo sou”, do original “Cogito ergo sum”, oriundo do verbo latino “esse”, que significa prioritariamente “ser”, e não “existir”.
“Esta perspectiva muda completamente o sentido da essência do existir: com isto, o filósofo colocava o Ser acima do pensamento. Descartes era considerado um filósofo idealista, ou seja, a Ideia, o mundo do Ser, é que ilumina o pensamento, dando origem à razão”, explica. Com o tempo, a tendência que predominou no iluminismo e continua prevalecendo no mundo atual distorceu essa frase, condicionando a existência ao pensamento, “numa espécie de culto ao racionalismo empírico, predominante na metodologia científica atual”, aponta.
O que nos coloca frente à dicotomia ser x existir, segundo o professor de Nova Acrópole, é que, diante de dilemas que não podem ignorar o sentido da existência humana, como o que as sociedades vivenciam agora, a pergunta “Quem sou?” ganhou um grau alto de complexidade, devido às suas várias alternativas de resposta.
“Sou aquele que pensa ou a minha identidade é o próprio pensamento? Ou sou aquele que sente? Sou aquele que vibra, com disposição e confiança em si mesmo, porque possui propriedades e riquezas? Sou os meus instintos e paixões, ponto de onde partiu J.J. Rousseau (1712-1778), no ‘Século da Luz’, para criar suas teorias do bom selvagem e do contrato social? Isto é o ser humano?”, questiona.
De acordo com o filósofo, o isolamento social não nos coloca em uma condição tão adversa quanto a vivenciada em outros momentos pela humanidade, uma vez que estar em casa e junto de entes queridos oportuniza melhores condições do ser humano penetrar profundamente em si mesmo para descobrir, a partir dos próprios sentidos, a dimensão de Vida de onde vem a percepção natural da beleza, da bondade e da justiça.
“Não suportamos a solidão porque não conseguimos identificar nada válido em nós mesmos, quando estamos afastados da mecanicidade cotidiana. Não temos consciência dessa autêntica dimensão humana da Vida, que é eterna, infinita, livre e não condicionada e aí está o papel da filosofia: ‘des-condicionar’ o pensamento”, afirma. “Ao descobrir de onde vem nossa percepção de virtudes verdadeiramente humanas, entendemos que no Ser habita a chispa divina e que, sendo eterna e livre, não teme a morte e nem sofre com as restrições da personalidade”, completa.
Sobre Nova Acrópole
Nova Acrópole é uma organização internacional de caráter filosófico, cultural e voluntário que atua há mais de 60 anos na promoção do estudo da filosofia de maneira aplicada, buscando fazer com que os ensinamentos e experiências que deram sustentação às grandes civilizações sirvam de base para reflexões e ações que possam contribuir na construção de uma sociedade melhor.