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11 de junho de 2021O projeto CIRCULAR – Arte na Praça Adolpho Bloch, iniciativa da Farah Service com curadoria de Marc Pottier, tem sido um sucesso desde a sua primeira edição. Para a 4ª edição, a exposição traz o tema Orgânico ou A Arte Politicamente Correta, que vai apresentar trabalhos de artistas que expressam as emoções positivas ou negativas causadas pela situação do meio ambiente e que estão impondo um novo conceito de comunidade e cuidado com o planeta. A exposição começa no próximo sábado, dia 12 de junho.
A artista Maria Fernanda Paes de Barros participa pela segunda vez a convite dos organizadores. Mantendo seu propósito de resgatar a cultura e ancestralidade e trazê-las para a contemporaneidade, Maria Fernanda apresenta três obras. Duas delas criadas por meio de uma vivência que a artista teve com a etnia Pataxó de Aldeia Barra Velha, no Sul da Bahia. As obras fazem parte do novo projeto de sua autoria, Filhos da Terra, e a terceira originada após sua vivência na aldeia Kaupüna, da etnia Mehinaku, no Alto Xingu, parte do Projeto Xingu lançado em 2020. “Nós, seres humanos, estamos determinando o destino de todas as outras formas de vida na Terra. É preciso compreender nossa responsabilidade para juntos encontrarmos a harmonia e reestabelecer o equilíbrio. Para isso precisamos compreender e a importância de todos os seres vivos, grandes ou pequenos, e respeitarmos o direito inerente que têm de habitarem este planeta.”, explica a artista.
Esta premissa vai diretamente ao encontro da proposta da nova edição do projeto Circular – Arte na Praça Adolpho Bloch, uma vez que ela quer ser uma introdução para mostrar como alguns artistas brasileiros se manifestam em relação à sua ligação com a natureza.
“Nas últimas décadas, o mundo mudou rapidamente em escala global, muito mais rápido do que nos milênios anteriores. Simplesmente colocar “eco” na frente das palavras não resolve suficientemente o desconforto experimentado pelas gerações atuais. Surge agora um novo conceito, a solastalgia neologismo que expressa um sentimento vivido por vários de nós ao redor do mundo hoje. É a sensação de desolação causada pela devastação de nosso habitat que define nosso tempo presente. Para o mundo da arte, esse é um assunto chave”, conta Marc Pottier, curador do projeto.
“No mesmo passo, ainda surgiram outros neologismos como a solifilia, sentimento positivo de unidade de interesses, um amor sincero à totalidade das nossas relações com a natureza e uma disponibilidade para aceitar diferenças, nos unirmos em uma corrente de solidariedade pela responsabilidade de cuidar da Terra, nosso lar; e a eutierria, quando a relação homem-natureza é espontânea e enriquecedora, definida como um sentimento positivo de unidade com a Terra e suas forças vitais, afinal somos filhos dela, como bem diz o povo Pataxó”, conta Maria Fernanda.
Partindo dessas premissas, Maria Fernanda desenvolveu Passagem e Entre o Céu e a Terra. A obra Passagem é uma parede que reflete a passagem do tempo, um tempo que aos poucos lava as camadas do barro e deixa transparecer apenas aquilo que é essencial.
“Uma mistura de fragilidade e força cuja sensível impermanência deixa os poros abertos, como se nos despíssemos das inúmeras peles que nos são impostas pela sociedade em que vivemos e passássemos não apenas enxergar o outro, mas também a nos nutrirmos e reaprendermos o que significa viver de verdade”, explica a artista. Medindo aproximadamente 1,67m de comprimento e 2m de altura e disposta de maneira que o público possa circular em torno dela, a parede tem estrutura em madeira jequitibá maciça esculpida em formas orgânicas, intercalando painéis feitos com uma mistura de barro, numa composição que abre espaço para uma “janela”, onde um punhado de sementes, que simbolizam a vida, nos coloca em contato com nossa essência.
A obra Entre o Céu e a Terra é uma parceria de Maria Fernanda com Txahamehé Pataxó. Com alturas aproximadas de 2 metros e feitos com penas de galinhas, sementes e pedaços de madeiras, os pendentes que tradicionalmente são usados em adornos para os cabelos, agora ganha dimensões multiplicadas para flutuarem com liberdade à sombra dos galhos das árvores. Os reflexos nos espelhos cuidadosamente posicionados à sua volta dão a sensação de que os pendentes brotam do solo, unindo Terra e Céu.
“O ar é o elo entre espiritualidade e matéria e os pendentes o caminho que eleva nossas preces e nos traz esperança”, completa Maria Fernanda.
A terceira obra, Balanço Kaupüna, criada em parceria com Kuyawalu Aweti e Kulikyrda Mehinaku, foi escolhida pelo curador Marc Pottier pelo seu forte significado. Segundo Kulikyrda, juntos eles criaram um “novo produto indígena” que marca a história da etnia por ser a primeira vez em que homens e mulheres precisam trabalhar juntos para criar uma única peça. Nele se encontra o tear tradicional feito pelas mulheres com fios de buriti e o trabalho em madeira com grafismos, tradicional dos bancos zoomorfos criados pelos homens.
Serviço
Exposição Orgânico ou A Arte Ecologicamente Correta
Realização – Farah Service
Curadoria – Marc Pottier
Projeto Circular – Arte na Praça Adolpho Bloch
Data – 12 de junho a dezembro de 2021
Local – Praça Adolpho Bloch – Jardins
Maria Fernanda Paes de Barros
Maria Fernanda Paes de Barros tem na leitura cultural sua verdadeira vocação. Filha de uma professora de artes plásticas e música, Maria Fernanda, desde cedo, foi incentivada a criar livremente, tendo contato com diversos materiais e suportes. Cursou administração de empresas, mas logo viu que a sua vida tomaria um rumo diferente. Se voltou para o design de interiores, atuando na área por 20 anos, e em 2014 migrou para o design de mobiliário, criando a Yankatu.
Sua paixão pelo artesanato brasileiro a levou a viajar pelo país em busca de tradições ancestrais e dos seus guardiões, mergulhando fundo neste rico caldeirão cultural que é o Brasil, onde a arte e a cultura dos povos originários encontraram-se com as dos europeus, africanos e imigrantes de diversas nacionalidades, e somaram-se a riqueza da flora e da fauna brasileira e a sua diversidade de matérias-primas. Tudo isso a permitiu libertar a artista que estava guardada dentro dela e hoje, movida pela emoção, realiza uma pesquisa regida pelo olhar, feita com sensibilidade e respeitando o ritmo ditado pelo tempo, que é traduzida em obras de arte cheias de significado e que, não raro, são feitas a quatro ou mais mãos, trabalhando lado a lado com os povos originários enaltecendo seu valor e suas tradições, numa interlocução repleta de significados.
Txahamehé Pataxó (Lourrane Araújo de Souza)
Nascida e criada na aldeia mãe Barra Velha, da etnia Pataxó, no município de Porto Seguro, Bahia. Hoje com 18 anos, desde os nove é artesã, criando peças de artesanato que unem penas, sementes e pedaços de madeira em obras delicadas que somam significado e beleza. Seu nome indígena, Txahamehé, significa flor do amor.
Sobre o Povo Pataxó
São um povo da floresta e do litoral, em noites de lua cheia realizam rituais de prosperidade na praia, onde a água do mar ao bater nas pedras produz o som “pa ta xóóó”. Foram uma das primeiras etnias a ter contato com os portugueses em 1500. Vivem atualmente em regiões de Mata Atlântica de três estados brasileiros, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Eles mantêm suas tradições e cultura vivas até hoje, falando o português e o idioma indígena Patxohâ.
Kuyawalu Aweti (Priscila)
E da etnia Aweti e Kamayurá. Morou na aldeia Kamayurá até se tornar moça, quando se mudou com a família para a aldeia Aweti onde conheceu Kulikyrda Mehinaku que morava na aldeia Mehinaku vizinha. e ainda menina aprendeu com sua mãe a tradição de tecer o fio de buriti para fazer redes e aproveitar seus talos para criar cestos e esteiras, além de pulseiras, roda ventos e o tradicional grafismo corporal. Fala a língua Tupi e um pouco de português.
Kulikyrda Mehinaku (Stive)
É da etnia Mehinaku e Aweti, técnico em agroecologia e Agente Indígena de Saúde (AIS). Começou a fazer bancos na adolescência, aos 13 anos, motivado pelo costume de seu povo de produzir estas peças para uso próprio. A possibilidade de comercialização também foi um incentivo, já que, na época, a venda de bancos era a principal fonte de renda do povo Mehinaku, viabilizando idas à cidade para a realização de cursos e a compra de objetos industriais hoje inseridos no cotidiano indígena. O seu nome Kulikyrda significa rosto de curica, uma espécie de papagaio da região amazônica. Fala o idioma indígena Aruak e o português.
Sobre o Povo Mehinaku
O povo Mehinaku reside no território Indígena do Xingu, no estado de Mato Grosso. Moram em ocas, vivem de seus costumes e cultura e trabalham durante todo o ano fazendo roças de mandioca e artesanatos. Entre as várias peças desenvolvidas como máscaras, remos, arcos e flechas, cestarias, cocares e brincos, estão os bancos zoomorfos feitos pelos homens em madeira cujas formas representam os animais de seu território, e as redes feitas pelas mulheres com fios de buriti.