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23 de novembro de 2021Em uma cerimônia marcada pela valorização da própria identidade, 51 alunos do curso de Licenciatura em Formação de Professores Indígenas, receberam da Universidade Federal do Amazonas, no último sábado, dia 20 de novembro, a outorga de grau, em solenidade presidida pelo reitor da Instituição, professor Sylvio Puga.
Concedida a alunos dos cursos de Formação de Professores Indígenas com ênfase em Humanas e Sociais, ênfase em Letras e Artes e ênfase em Exatas e Biológicas, a outorga se deu em cerimônia realizada na cidade de São Gabriel da Cachoeira, estatisticamente o município com maior população indígena do País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na cerimônia, à mesa do evento, além do reitor, estavam o vice-diretor da Faculdade de Educação (Faced), professor Cláudio Gomes da Victoria, a vice-prefeita da cidade, Eliane Farias Falcão, a paraninfa do curso, professora Jonise Nunes Santos, o coordenador do curso e também professor homenageado, Gersem dos Santos Baniwa.
O presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Rodrigues Barrosos, o secretário municipal de educação em exercício, professor Humberto Valencio Gomes, a patronese das turmas, professor Ana Carolina Ferreira Alves e o representante da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), professor Osmar Filho Cordeiro da Silva também compuseram a mesa. Pelo Instituto Socioambiental (ISA), participou João Luís Saraiva Morais e pelo Instituto Federal do Amazonas, o ex-diretor, professor Elias Brasilino, além da ex-coordenadora local do curso de formação, professora Valdete Aparecida Andrade e o professor Gerson Ribeiro Bacury.
Para abrir a programação da cerimônia, houve apresentação do ritual Cariçu, que na tradição nativa é um rito de acolhimento e de boas vindas aos visitantes. Em seguida, deram-se os juramentos. Os então formandos Tarcísio dos Santos Luciano, Maria Edilene Montalvo Meireles, Marino Brazão Fontes e Sidinha Gonçalves Tomas os proferiram em português e nas línguas Tucano, Baniwa e Nheengatu.
A aluna Camila Eliza Felipe da Silva, Licenciada em Formação Escolar Indígena com ênfase em Exatas e Biológicas foi a primeira a receber o grau do reitor da Ufam.
Chegado o momento dos pronunciamentos, eles foram iniciados pelo professor homenageado, professor Gersem dos Santos Baniwa, que abordou o sentimento de gratidão.
“Ser grato é um sentimento forte, importante e necessário, por isso agradecer à Ufam se faz justo uma vez que que a instituição tem se mantido fiel ao compromisso histórico de trazer formação com qualidade para São Gabriel da Cachoeira, desde 1993. Esses agradecimentos também cabem aos parceiros: Ifam, Secretaria Municipal de Educação, Foirn e ISA, sem os quais teríamos chegado até aqui, porém, com muito mais dificuldades”, frisou.
A paraninfa da turma, professora Jonise Nunes dos Santos, nomeou alunas que tiveram importância em sua jornada como professora da turma e com quem estabeleceu uma troca de conhecimentos.
“Há ensinamentos que não cabem em livros, porque eles não se sobrepõem às vivências e às experiências tão vivas dentro do seio dessa cultura. Eu aprendi muito e vi que vocês também. Enquanto aprendemos sobre suas tradições e sua verdade, vocês aprenderam o suficiente sobre o que nós tínhamos a contribuir para devolver a nós trabalhos primorosos ao final dessa missão, que vocês se propuseram a cumprir”, disse.
A maior representação indígena no município, a Foirn, além de parabenizar os já professores graduados, também falou do anseio por mais formação continuada.
“Não é uma luta fácil, nunca foi. Os próprios cursos que hoje são ofertados são oriundos de pedidos nossos, desejos estes que não acabam porque queremos ter acesso a mais cursos, acompanhados de políticas de governantes que visem a nossa colocação no mercado de trabalho de forma que possamos nos ver em muitos ambientes, ocupando espaços para que tenhamos voz”, disse Marivelton Barroso.
A prefeita em exercício de São Gabriel da Cachoeira, Eliane Farias, reiterou o apoio do executivo municipal aos cursos ofertados pela Ufam e falou diretamente aos novos professores.
“Vocês lutaram, vocês conseguiram, agora vão pôr em prática o que aprenderam em teoria. Para a prefeitura, vocês serão nossa força de aperfeiçoamento nas salas de aula. Contamos muito com vocês para fortalecer a educação indígena em São Gabriel da Cachoeira”, afirmou.
O vice-diretor da Faced, Cláudio Gomes da Victoria, representando a Faculdade de Educação é a unidade (além do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais – IFCHS) que aporta as licenciaturas voltadas à formação indígena.
“Outras demandas e necessidades sempre virão, exemplo do que foi apresentado por muitos de vocês. E, de fato, o processo de formação nunca acaba e eu fico feliz de ver que vocês querem buscar novos caminhos. Quanto mais longe vocês forem, mais forte se tornarão. O restante do país desconhece o que é fazer educação no Amazonas e a universidade que está aqui, junto de vocês, não é a mesma desde que vocês chegaram. Esse é o movimento que temos de continuar a seguir: acolher cada vez mais essa diversidade e pluralidade. Por fim, transmito o abraço da diretora da Faced, professora Silvia Conde, a vocês”, disse.
Professora Ana Carolina, patronesse da turma, ressaltou a força de cada um dos então alunos.
“Foram momentos difíceis, superados com garra e comprometimento para que enfim estivessem aqui. Vocês são merecedores. Para mim, uma honra ter acompanhado as suas caminhadas na certeza de que em muito contribuirão com suas comunidades”, falou.
Em seu pronunciamento, o reitor discorreu sobre suas lembranças construídas a partir da primeira experiência como docente da Universidade, fora da sede e num curso modular, e também abordou o compromisso da Ufam com a cidade e a causa indígena.
“Foi aqui onde iniciei minha trajetória docente, há 21 anos, justamente em São Gabriel da Cachoeira. Para mim é uma lembrança muito feliz porque aqui já estive como professor e agora, na oportunidade de estar no cargo de reitor, entregando pela nossa universidade, professores indígenas no município de maior número de etnias do País”, reiterou ele. “Aproveito esta importante ocasião para fortalecer o nosso compromisso com esta cidade, afirmando que traremos outros cursos em novos formatos, mantendo também os tradicionais, mas jamais deixarmos de estar aqui, servindo a este povo. Ao contrário do que se possa pensar, essa colação não encerra nossa relação, mas, sim, fortalece e amplia. A Ufam continuará de portas abertas para receber vocês”, garantiu.