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28 de março de 2022A falta de tratamento de esgoto é comum nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, trazendo consequências para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. Para tratar as águas residuárias de vasos sanitários em comunidades ribeirinhas alagáveis, foi desenvolvida a “Fossa Alta Comunitária”. A tecnologia social será apresentada em live do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) no dia 31 de março (quinta-feira). O evento é gratuito, com transmissão, às 9h (horário de Manaus), pelo canal do Inpa no Youtube/INPA.
O esgotamento sanitário é um desafio para as comunidades rurais na Amazônia devido a diferentes fatores, como o ciclo sazonal das cheias e vazantes, o deslizamento de encostas e, em muitos casos, o acesso exclusivamente hidroviário. Para oferecer às famílias ribeirinhas um sanitário para uso com dignidade, privacidade, conforto, e que combata os problemas de saúde relacionados à falta de saneamento, o pesquisador do Instituto Mamirauá, doutor em saneamento João Paulo Borges Pedro, desenvolveu a Fossa Alta Comunitária (FAC), uma tecnologia adaptada especificamente para áreas alagáveis da região, sendo uma importante barreira entre os patógenos do esgoto e os moradores.
O funcionamento do sistema de tratamento será compartilhado na Live “Fossa Alta Comunitária: Uma tecnologia social para o saneamento na Amazônia”. Os interessados podem se inscrever no endereço https://www.even3.com.br/LiveInpaFossaAltaComunitaria ou acessar diretamente o evento clicando aqui. Os inscritos receberão declaração de participação de 3 horas.
“Trata-se de uma experiência bem-sucedida de aplicação de uma tecnologia social, em região amazônica, para a solução do problema de saneamento de esgoto doméstico em áreas remotas”, destacou a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa e mediadora da Live, Denise Gutierrez.
Como funciona
A Fossa Alta Comunitária é composta por um tanque séptico circular de fibra de vidro ou polietileno, um filtro anaeróbio circular de polietileno, com meio filtrante formado por cacos de tijolo, um sumidouro circular e uma base elevada em concreto.
Em termos de funcionamento, as águas residuais do vaso sanitário são direcionadas para o tanque séptico, onde passam pelo processo de decantação, sedimentação e digestão anaeróbia. Em seguida o efluente pré-tratado é direcionado para o filtro anaeróbio de fluxo ascendente, passando por processos de retenção de partículas e ação metabólica de microrganismos presentes no biofilme do meio suporte. Após esse tratamento o efluente já clarificado é direcionado para um sumidouro.
Além do tratamento, João Paulo explica que há a instalação de sanitários nas residências, incluindo caixa d’água de 300 litros, caixa de descarga, vaso sanitário, pia com torneira e estrutura de madeira. As famílias ainda podem escolher o melhor arranjo quanto à altura da superestrutura (‘casinha’), acesso por rampa ou escada, sanitário dentro ou fora de casa, possuir ou não portas e janelas com telas de mosquiteiros, cores de pintura interna e externa, e instalação de chuveiro.
O sistema pode tratar o esgoto de até quatro residências ao mesmo tempo, reduzindo assim o custo do orçamento per capita (por pessoa). O próprio Instituto Mamirauá é quem identifica e faz o diálogo com as comunidades beneficiárias. O custo de cada sistema fica entre R$ 10 mil e R$ 12 mil.
Comunidades beneficiadas
A Fossa Alta Comunitária foi instalada em duas localidades, ambas em área de várzea, totalizando o atendimento de 253 moradores. A primeira delas é na Comunidade Santa Maria, município de Tefé-AM. Foram instalados três unidades, contemplando seis famílias ou 23 moradores. Com as instalações, a comunidade passou de 0% para 20% de cobertura de tratamento de esgoto.
A segunda comunidade atendida foi São Raimundo do Jarauá em Alvarães-AM. Foram instalados duas unidades: uma na escola e outra unidade no centro comunitário. Na escola, a tecnologia beneficiou 54 alunos e seis colaboradores, cobrindo 100% da demanda de tratamento de águas de vaso sanitário. No centro comunitário, a fossa foi instalada 100% da comunidade, com capacidade para atender os 170 moradores.
Entre os benefícios da tecnologia, João Paulo destaca o conforto e a comodidade para os moradores, que não necessitam mais ir ao mato fazerem suas necessidades, principalmente à noite ou na chuva.
“Os comunitários conseguem relacionar a presença do sanitário com a diminuição de doenças relacionadas à falta de saneamento, principalmente com as crianças, e se sentem mais seguros por não mais se exporem a animais perigosos comuns nas áreas rurais da Amazônia, como cobras, onças, jacarés, insetos, quando iam fazer suas necessidades ao ar livre”, completa.
Tecnologia certificada
Em 2021, a Fossa Alta Comunitária recebeu a certificação da plataforma Transforma! Rede de Tecnologias Sociais, da Fundação Banco do Brasil (FBB), e pode ser consultada em https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/fossa-alta-comunitaria. Mais detalhes serão compartilhados pelo pesquisador na Live.
Minibiografia
Doutor em Saneamento pela UFMG. Mestre em engenharia ambiental pela UFSC. Atualmente é pesquisador do Instituto Mamirauá, na região do médio Rio Solimões, onde atua há doze anos com pesquisa em Saneamento em comunidades rurais na Amazônia, notadamente em áreas alagáveis.