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9 de fevereiro de 2023Cada vez mais as mulheres estão se tornando protagonistas do extrativismo na Amazônia, que antes eram predominantemente masculinas – um movimento que vem provocando verdadeiras transformações na vida e cotidiano de populações amazônicas.
“A gente costuma dizer que a mulher não é dona só do lar, nós também somos donas da terra e trabalhamos na proteção do território”.
É assim que a líder indígena Shirley Arara, da Terra Indígena (TI) Igarapé Lourdes, em Rondônia, explica a participação das mulheres na organização social das comunidades extrativistas tradicionais da Amazônia. A comunidade de Shirley trabalha com a coleta e comercialização da Castanha-da-Amazônia e do açaí. Hoje, a presença feminina se tornou mais forte nos processos, desde a coleta até o beneficiamento dos produtos.
Essa tendência de crescimento da presença feminina nas cadeias extrativistas se repete em outros locais, como no município de Beruri (AM), que possui uma usina de beneficiamento de Castanha-da-Amazônia. Por lá, aproximadamente 40% dos trabalhadores formais da usina são mulheres.
“Antigamente, as mulheres não eram envolvidas na cadeia. Elas cozinhavam, cuidavam dos filhos e da casa para que seus maridos entrassem nos castanhais enquanto elas faziam o trabalho doméstico. Essa realidade mudou. Hoje as mulheres vendem a própria produção e querem ter acesso ao mercado também”, conta Sandra Amud, diretora presidente da Associação dos Agropecuários de Beruri (Assoab), organização que administra a usina de beneficiamento.
A Assoab adquire castanha in natura de 342 famílias coletoras da TI Itixi Mitari e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus. Desde 2015, Sandra está à frente da gestão da associação e promoveu uma série de melhorias administrativas para solucionar os gargalos da cadeia da castanha. Para ela, ter uma mulher na liderança de uma organização como a Assoab acabou inspirando outras mulheres a se envolverem mais na atividade extrativista e a serem líderes em suas comunidades.
Parcerias de valor
Uma das parceiras que acreditaram e apoiaram estas ações foi o projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, iniciativa resultado de um acordo de cooperação internacional entre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o governo brasileiro. Por meio da parceria, a Assoab levou treinamento sobre boas práticas de manejo na cadeia da castanha, construiu paióis comunitários para armazenamento dos produtos, disponibilizou Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e proporcionou capacitações em gestão e organização comunitária para as comunidades extrativistas.
A unidade de Beruri foi a primeira usina de castanha no Brasil de base comunitária a receber a certificação Cadastro Geral de Classificação (CGC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que permite à Assoab conduzir as primeiras experiências para exportação da castanha produzida pelos associados.
Sociobiodiversidade
O projeto Cadeias de Valor Sustentável atua nas cadeias de valor da Castanha-da-Amazônia, açaí, pirarucu e madeira de manejo comunitário. Em 2021, beneficiaram economicamente mais de 36 mil pessoas com atividades de manejo sustentável. Na cadeia da castanha, por exemplo, o projeto contribuiu para a geração de R$ 5,5 milhões em renda para os castanheiros, apenas no estado de Rondônia.
O projeto também capacitou, no mesmo ano, 71 organizações de base comunitária que lideram negócios sustentáveis na Amazônia. Até 1,2 mil pessoas foram treinadas anualmente para exercer melhor suas funções nas cadeias de valor e no manejo dos recursos naturais em seus territórios durante os sete anos da iniciativa. Todo esse trabalho chegou a mobilizar mais de R$ 20 milhões em um ano para a conservação da biodiversidade, além do valor investido pela USAID.
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