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17 de setembro de 2023O Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, em parceria com o Projeto Iguatu, realizaram na manhã deste sábado, 16/09, uma grande ação de limpeza num trecho de aproximadamente 880 metros do leito do igarapé da Anaconda, um dos afluentes do Tarumã Açú, que corta a comunidade Parque das Tribos, no Tarumã, Zona Oeste de Manaus. A ação socioambiental, alusiva ao Dia Mundial da Limpeza, comemorado neste domingo, 17/09, faz parte das atividades de sensibilização desenvolvidas pelos dois projetos junto aos moradores da comunidade, onde convivem 35 etnias do Amazonas, reunidas num só território, já oficializado como o primeiro bairro indígena de Manaus. Denominado Puxirum, termo de origem indígena que significa ajuda mútua, o mutirão de limpeza foi o primeiro realizado pela comunidade, por meio da Associação Indígena e de Moradores do Parque das Tribos (Aimpat).
O pesquisador da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias de Souza Lima, coordenador do Projeto Manaós, explica que a ideia do 1º Puxirum Ambiental foi a de trazer a cosmologia dos povos indígenas, que associam o cuidado com a saúde ao cuidado com o território, para uma ação socioambiental de sensibilização, reunindo diversos atores, entre voluntários, moradores, estudantes e representantes de órgãos públicos do município.
“Enxergamos na parceria com o Projeto Iguatu e a Aimpat essa possibilidade de promover saúde a partir da visão dos povos indígenas, segundo a qual cuidar do território significa cuidar da saúde, ou seja, uma ação socioambiental que tem a pegada de promoção da saúde e promoção da vida no contexto urbano para os indígenas. Aprendemos todos com essa experiência”, afirmou Tobias.
A ação ocorreu ao longo da manhã, com mais de 40 participantes, divididos em dois grupos: um que percorreu as ruas do bairro, no trecho mais próximo das margens do igarapé, e o outro que realizou a coleta de resíduos no próprio leito do curso d’água, que se encontra totalmente seco, em virtude da vazante severa. Guiados por indígenas moradores da área, os participantes desse grupo coletaram todo tipo de resíduo, principalmente plástico, isopor, restos de eletrodomésticos, como geladeira e televisão, malhadeiras de pesca, fios de arames, entre outros, descartados nos diferentes cursos d’água da cidade. O grupo percorreu cerca de um quilômetro de margens até finalizar a ação com o resultado da coleta. Todo o lixo retirado seguiu para o aterro controlado de Manaus, por meio do Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), que também enviou uma equipe de educação ambiental para sensibilizar os moradores.
“O igarapé é fonte de vida para a comunidade, utilizamos para o nosso lazer, pesca, mas infelizmente a poluição e a contaminação das águas vêm tirando esse direito do nosso povo. Estamos aqui hoje mobilizando o Parque das Tribos, por meio da parceria com os projetos Manaós e Iguatu sobre a importância de manter o rio limpo, preservarmos as nascentes de onde ainda podemos beber e retirar o nosso peixe, sem isso não podemos mais contar com as águas do rio”, afirmou a liderança indígena Lutana Kokama (Lucenilda Ribeiro Albuquerque), presidente da Aimpat. Segundo ela, as nascentes do Igarapé da Anaconda estão sob ameaça de assoreamento em virtude de uma obra que está sendo realizada na área.
IGUATU
O Projeto Iguatu é uma iniciativa selecionada pelo Programa Laboratório Ambiental Brasil Jovem (Labjovem), que conta com o apoio da Embaixada da França no Brasil para realizar o trabalho de sensibilização ambiental junto à comunidade do Parque das Tribos. Eles utilizam, entre outros recursos, o teatro como ferramenta de conscientização, além de realizarem oficinas sobre separação de resíduos e compostagem com moradores (sobretudo crianças e jovens), residentes nas proximidades das margens dos igarapés. O projeto tem parceria ainda com o grupo Casa Teatro Tauá Caa, que realiza esquetes teatrais sobre temas relacionados à problemática ambiental. No Puxirum, o grupo apresentou a esquete “O Gigante”, retratando as alegrias e os dramas de quem vive às margens dos cursos d’água em Manaus.
“O Puxirum é momento de sensibilizar a comunidade, os próprios indígenas para que se juntem a nós. Convidamos parceiros, amigos, mas o ponto principal é a comunidade, pensando em soluções adequadas para o Parque das Tribos”, explica Almira Neta, mentora do Projeto Iguatu. Moradora da comunidade há três anos, Ana Paula Macena, da etnia mura, se disse satisfeita com a ação. “Defendo a causa do meio ambiente e estou disposta a ajudar no processo de proteção das águas dos rios na comunidade. Não basta apenas defender, temos que agir. Essa é uma área importante para todos nós, fazemos eventos, cultos e usamos como lazer também, tanto aqui quanto na área mais à frente. A vazante mudou o ritmo da cheia dos rios e não temos mais uma data certa para saber quando vai voltar a encher, por isso precisamos cuidar e não deixar que o lixo jogado nas ruas seja levado para o leito do igarapé”, lamentou ela.
SOBRE O MANAÓS
O Projeto Manaós é vinculado ao Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa/Fiocruz Amazônia) e foi aprovado no edital 2021 do Programa Inova Fiocruz – Saúde Indígena, que “incentiva a transferência do conhecimento gerado em todas as áreas de atuação da Fundação Oswaldo Cruz para a sociedade, e conta com financiamento do Fundo de Inovação da Fiocruz e do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE)”, explica o pesquisador Rodrigo Tobias Lima, coordenador do Projeto.
O objetivo principal do Projeto é avaliar as condições de saúde da população indígena residente na Comunidade do Parque das Tribos, localizada na zona oeste de Manaus, e analisar sua capacidade de acesso à rede de serviços de saúde na capital. São também parceiras institucionais do Manaós: a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa-Manaus), Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai-AM), Universidade Federal do Amazonas (Ufam-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Fiocruz Brasília e Fiocruz Ceará.
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