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2 de março de 2024O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, por unanimidade, durante sua 103ª Reunião, realizada nesta quarta-feira (28/02), a inclusão do terreiro Ilê Axé Icimimó Aganjú Didê, em Cachoeira (BA), no Livro do Tombo Histórico, Etnográfico e Paisagístico, como Patrimônio Cultural Brasileiro. O reconhecimento é pelo valor histórico, cultural e ambiental da casa que existe há quase 100 anos.
A casa, que por muito tempo ficou conhecida em Cachoeira como o “terreiro de mãe Judith”, em uma referência à mãe de santo que a criou, esteve sob liderança de várias gerações de líderes religiosos. Atualmente, “Pai Duda de Candola” é quem responde pelo espaço. O terreiro faz parte de uma rede importante de casas de candomblé na região, e tem grande significado para a memória dos povos iorubá que chegaram ao Recôncavo Baiano.
Segundo o laudo antropológico que fundamentou o processo de tombamento, um dos aspectos que fazem do Icimimó um importante patrimônio cultural são as características do chamado candomblé rural. Dessa forma, definido como uma comunidade que “organiza sua prática religiosa em torno de dois eixos basilares: a terra e a casa”. A paisagem natural, as áreas de plantio agrícola e criações dos animais, as fontes e nascentes, além dos fitoterápicos e do horto sagrado, juntamente com as edificações do local, formam um complexo envolto de significados sagrados para os praticantes da religião de matriz africana.
As quatro fontes de água nomeadas de Olunda, Iyemonjá, Oxum, Oyá/Oxumare pelos seguidores deste culto são outro elemento que mostra a relação das pessoas com o território e o significado sagrado que o credo confere a cada elemento do espaço de 22 hectares em que está instalado o terreiro Icimimó.
Na condução dos trabalhos do Conselho Consultivo, o presidente o Iphan, Leandro Grass, ressaltou o caráter histórico deste reconhecimento na valorização das religiões de matriz africana. Já o superintendente do Iphan na Bahia, Hermano Queiroz, também presente na reunião do Conselho Consultivo, destacou que o tombamento do Terreiro Icimimó é a vitória contra o preconceito, o elitismo, o racismo e o etnocentrismo. “É a conquista dos povos de terreiro sobre os valores de suas identidades e memórias, bem como de seu território sagrado”, continuou Queiroz.
Governança espiritual
As particularidades que fazem do Icimimó um Patrimônio Cultural Brasileiro vão muito além da riqueza cultural cultuada pelos praticantes da religião desde 1913, quando o local foi fundado.
“Além de se pautarem pela hierarquia e pelo respeito à ancestralidade, submetem-se ao que Maria Alice Pereira, em trabalho recente, chama de ‘governança espiritual’. No caso em tela, refiro-me à governança exercida por Aganjú Didê, o orixá de Mãe Judith, ao fazer plantar seu axé no alto da Terra Vermelha, redirecionando para esse espaço toda a comunidade”, afirma o relatório produzido pela conselheira Marcia Genésia de Sant’Anna.
Para o ogã do terreiro, José Carlos Dias Matos, a conquista desse reconhecimento ajuda a fortalecer o trabalho do centro de culto.
“Desempenhamos um papel importante não só para os frequentadores da casa, mas em todo o nosso papel na comunidade de Cachoeira, buscando diariamente fortalecer políticas públicas para melhorar a vida do nosso povo”, afirmou José Carlos.
O desfecho da votação no Conselho deixou emocionado o pai de santo Antônio Santos da Silva, o Pai Duda de Candola, líder que está à frente do terreiro atualmente.
“É uma vitória não só do Icimimó, mas de todo o povo de terreiro do Recôncavo Baiano e de nossa ancestralidade”, declarou.
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