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30 de julho de 2024O maior acervo de coletas de plantas da Amazônia brasileira, o Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) completa 70 anos. A celebração da data aconteceu na última sexta (26) com a escolha da exsicata (planta seca herborizada) comemorativa da coleta de número 300 mil – Goeppertia allouia (Aubl.) Borchs. & S. Suárez, espécie alimentícia conhecida como ariá – e apresentação do projeto do novo Herbário Inpa, que receberá investimento de R$ 10 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A cerimônia que incluiu a apresentação de um vídeo sobre as ações do Herbário fez parte das comemorações dos 70 anos de implantação do Inpa, um dos mais importantes centros científicos sobre a biodiversidade, os ecossistemas e o papel da floresta amazônica na mudança climática. O Inpa foi criado pelo Decreto 31.672 de 29 de outubro de 1952 e instalado em 27 de julho de 1954. Na manhã do último sábado (27), o Bosque da Ciência estará com programação especial, com exposições educativas, oficinas, trilha temática e jogos.
Um herbário é como se fosse uma “biblioteca de plantas”, onde as amostras coletadas em campo são preparadas em exsicatas – plantas secas, identificadas e armazenadas, que são preservadas para servir de estudos por dezenas e até centenas de anos sobre identificação e catalogação de espécies (taxonomia), evolução (sistemática) e distribuição geográfica. A exsicata é montada em jornal ou cartolina e recebe uma etiqueta de identificação, o tombo. Esse registro único traz informações sobre o coletor, a data, onde a planta foi encontrada.
Nas prateleiras dos armários do Herbário Inpa existem 300 mil exemplares, a maioria plantas (incluindo as estruturas reprodutivas como sementes, flores e frutos) da flora amazônica, mas há de outras regiões do Brasil e de 70 países. A flora brasileira representa 91,6% dos exemplares (274.998) e os espécimes coletados no Amazonas a metade do acervo ( 151.998, ou seja, 50,6%).
Para o diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira, o Herbário Inpa não é apenas uma coleção de exsicatas catalogadas, é um tesouro científico que desempenha um papel crucial para o avanço do conhecimento científico e para a conservação da biodiversidade Amazônia. Só de árvores, os cientistas estimam que existam 16 mil espécies de árvores na Bacia Amazônia.
“O Herbário Inpa é uma instituição de importância inestimável. Ele é um guardião da biodiversidade, um motor de pesquisa científica, um centro de educação e formação, um facilitador de colaboração internacional e um símbolo de compromisso com a conservação”, destacou Pereira.
A coleção do Herbário Inpa abriga 20,1 mil espécies de plantas, de 28.794 famílias botânicas, a maior parte Rubiaceae (15.541), na qual está inserida a unha-de-gato (Uncaria tomentosa) com amplo uso na medicina tradicional, e a Melastomataceae (10.085), família com muitas espécies que contribuem na recuperação de solos degradados através da regeneração natural.
As várias expedições e os trabalhos de campo renderam um acervo de amostras valoroso. Em sete décadas, centenas de pesquisadores, técnicos, estudantes, bolsistas, auxiliares de campo e colaboradores coletaram plantas, mas também fungos, que documentam a riqueza da diversidade amazônica e fornecem uma base de dados essencial para a identificação de espécies, muitas delas poderiam ser perdidas para sempre. Algumas dessas espécies, inclusive, já “nascem” ameaçadas de extinção.
Registro histórico
A exsicata comemorativa do registro 300 mil – Goeppertia allouia (Aubl.) Borchs. & S. Suárez – foi coletada pela bióloga e bolsista Marly Castro Lima, com a pesquisadora Noemia Ishikawa e o servidor Atmam Campelo Batista. Metade dos presentes do evento escolheu a exsicata, que levou 46 (50,5%) dos 91 votos. A coleta da planta conhecida como ariá foi feita na Estação Experimental de Hortaliças do Inpa, e integra o banco de germoplasma de espécies alimentícias desta infraestrutura de apoio à pesquisa do instituto, em Manaus.
“Estou feliz por nossa coleta ser a escolhida. A ideia foi trazer uma planta que no passado já foi um alimento muito consumido e atualmente nas feiras locais é muito difícil de encontrá-lo. Então, aliamos o conhecimento tradicional e científico para tentar colocar o ariá em evidência, tanto na parte cultural quanto científica”, destacou Lima.
Novo Herbário
De acordo com o curador do Herbário Inpa, o pesquisador Mike Hopkins, a marca de 300 mil parece muito, mas não é, porque ainda há muito para se conhecer da biodiversidade amazônica.
“Esperamos que este momento seja o início para o processo de aumento da taxa de coleta de plantas e de investimentos em taxonomia. O herbário está cheio e precisamos de espaço maior e mais seguro, que agora poderemos ter com o investimento do MCTI no novo herbário”, destacou.
O recurso de R$ 10 milhões para o complexo do novo herbário virá da Ação Transversal do Pró-Amazônia 2024 (MCTI/Finep/FNDCT), um projeto de encomenda solicitado pela Direção do Inpa, com a intermediação da Subsecretaria de Ciência e Tecnologia para a Amazônia do MCTI. A previsão é de liberação ainda este ano e o projeto terá duração de 36 meses. O primeiro passo será a contratação do projeto de concepção arquitetônica, para depois o projeto básico e em seguida a contratação da empresa que fará as obras.
O valor será investido para reformar e ampliar o prédio da antiga Coordenação de Produtos Florestais (CPPF), também no campus 1. Segundo Hopkins, a proposta é que o novo espaço contemple dois pavimentos ampliado o tamanho atual de 1.658 metros quadrados do prédio da CPPF (102m x 16,25m) e seja mais moderno, seguro, com proteção de ataques de insetos e sistema anti-incêndio.
A ideia é que seja um espaço amplo, com vários laboratórios, salas de reuniões e interação com visitas públicas.
“Queremos que seja um complexo de estudo e salvaguarda da flora amazônica, que vai incluir vários tipos de coletas e de partes das plantas. Esperamos que a coleção reúna os fungos, mas também os acervos de pólen, madeira, material em sílica, todos com sua coleção e ligados digitalmente”, contou o curador.
O Herbário do Inpa possui banco de dados 100% informatizado e fotografado, gerenciado no Botanical Research and Herbarium Management System (Brahms) e disponibilizado no specieslink e outras plataformas que podem ser consultadas em qualquer parte do mundo. Atualmente 598,8 mil imagens estão associadas aos exemplares do herbário.
Outra frente de atuação é o escaneamento de plantas, através da assinatura química das folhas, com o objetivo de precisar e acelerar o processo de definição de espécies. A técnica é muito útil especialmente para identificação de plantas estéreis.
Segundo Hopkins, os inventários florestais desenvolvidos por vários projetos do Inpa coletam e trabalham com plantas estéreis (sem necessidade de flores e frutos, como requer a taxonomia) e essas testemunhas encontram-se distribuídas em vários laboratórios. A ideia é que o novo complexo do herbário receba esse material também, para que seja bem organizado e preservado para permitir estudos futuros.
Trajetória entrelaçada
Os estudos das plantas e das doenças tropicais foram ponto de partida para as atividades do Inpa em meados da década de 1950, quando enfrentou toda ordem de dificuldade e funcionou por quase duas décadas em sedes alugadas, no Centro de Manaus. No início, dada as dificuldades – como falta de energia e acesso limitado a alimentos frescos – muitos dos pesquisadores que vieram para Manaus, deixaram a cidade.
A consolidação ocorreu no início da década de 1970 com a construção da sede própria, no Aleixo, e uma maior contratação de recursos humanos. As novas instalações contemplaram inicialmente 11 prédios, entre os quais Herbário, Botânica, Celulose e Papel, Pesquisas Florestais e o Setor socioeconômico. No fim de 1973, o complexo ficou conhecido como Cidade Ciência. O projeto arquitetônico leva a assinatura de Severiano Mário Porto, enquanto o de arborização a do paisagista Burle Marx.
No mesmo ano, outra importante medida foi a criação da primeira Pós-Graduação do Inpa, o curso de mestrado de Botânica Tropical, organizado pelo notável botânico inglês Sir Ghillean Prance. O pesquisador também foi responsável pelo Flora Amazônica (1976-1985). O programa binacional (Brasil e Estados Unidos) de coleta de plantas em áreas ameaçadas e remotas da Amazônia foi também o período em que mais o Herbário do Inpa cresceu.
Além das diversas expedições científicas para coleta, Prance é um dos maiores identificadores do Herbário Inpa com 7.587 registros, ficando atrás apenas do conceituado parataxônomo José Ramos (14.868) e William Rodrigues (8.493). Rodrigues veio para o Inpa em 1954 a convite de seu professor, Olympio da Fonseca, primeiro diretor do Instituto.
Sob a ‘batuta’ de William Rodrigues e apoiado por ilustres botânicos como Prance e Adolfo Ducke, a Botânica se tornou o setor científico mais ativo do Inpa, que ganhou reconhecimento internacional sobre as pesquisas da flora amazônica, com a descoberta de novas espécies e abrindo caminhos para outras áreas como a ecologia. Todos continuam vivos, exceto Ducke.
Foto: Camila Barbosa
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