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18 de agosto de 2020O Laboratório Central do Estado (Lacen-PA) está prestes a completar 70 anos de existência. Referência para exames que detectam doenças como tuberculose, hanseníase, meningite, parasitologias (como a doença de Chagas, por exemplo), dengue, chikungunya, zica vírus e muitas outras, ganhou uma importância ainda maior em meio à pandemia do novo coronavírus. Habilitado pelo Ministério da Saúde, através do Instituto Evandro Chagas (IEC), para a realização do diagnóstico da Covid-19 pela metodologia da biologia molecular (RT-PCR), chegou a funcionar por mais de 20 horas seguidas diariamente durante o pico da contaminação, entre abril e maio.
Investimentos do Governo do Pará, que comprou cerca de R$ 1,5 milhão em insumos e conseguiu, junto ao Governo Federal, garantiram que o Lacen recebesse um exemplar da Janus Flex Nat, uma extratora automatizada de RNA viral capaz de processar 100 amostras simultaneamente – há cinco unidades do equipamento na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e em outros poucos lacens pelo Brasil.
“É uma metodologia Padrão Ouro, somente os maiores laboratórios trabalham” – Alberto Jorge Junior, diretor do Lacen-PA.
Atualmente, a liberação dos resultados demora cerca de 48 horas a partir do momento em que o material chega ao Laboratório Central.
“Na análise, que era feita manualmente, passamos à capacidade de três mil amostras por semana. É um exame que requer interpretação por parte do profissional que o realiza, porque a máquina não informa o resultado, se é positivo ou negativo, mas sim mostra uma curva que é interpretada a partir dos padrões estabelecidos”, explica o gestor, afirmando que esse conjunto de ações garantiu que o trabalho não fosse interrompido nem um dia sequer, e uma jornada cumprida de domingo a domingo.
Além da plataforma, houve ainda o incremento de três equipamentos de amplificação.
Pelo RT-PCR, que utiliza a metodologia da Biologia Molecular em tempo real, é feita a extração do RNA viral juntamente com o DNA humano. É realizado o processo de extração dentro da célula, para que juntamente com os controles sintéticos e outros não sintéticos, seja feito o diagnóstico.
A atuação do Lacen-PA foi otimizada quando novamente o Governo do Pará se antecipou em, antes mesmo do primeiro caso confirmado da doença, promover a capacitação de coleta por swab de nasofaringe em todo o Estado.
“Alguns profissionais já tinham esse treinamento, porque é o mesmo método usado para suspeita de sarampo e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). Posteriormente, habilitamos o Laboratório de Biologia Molecular (Labimol) do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém, para o diagnóstico do novo coronavírus. Quando eles têm resultados positivos lá, mandam para nós fazermos a contraprova e, consequentemente, o controle de qualidade”, explica o Jorge Junior.
Vocações
Além da Divisão de Biologia Médica, o Lacen-PA também desempenha um papel indispensável para a rotina de toda a população na área de análise de produtos. Por lá, é feito o controle de qualidade de medicamentos, alimentos, e principalmente da água mineral e da água para consumo humano (que sai da torneira, do chuveiro). Já a Divisão de Redes de Laboratórios que supervisiona todos os cerca de 675 laboratórios públicos e privados do Estado.
A farmacêutica Nailda Pantoja é chefe da Divisão de Análises de Produtos e Meio Ambiente confirma que o papel desse setor impacta na qualidade de vida de quem está em casa, quem está na rua e quem está nos hospitais.
“Nossa premissa é monitorar e validar a água que o consumidor utiliza, o medicamento que ingere, se os kits laboratoriais estão dentro dos padrões de qualidade”, detalha.
Agora, durante a pandemia, também fazem o controle de água de hemodiálise feita em pacientes entubados por causa do novo coronavírus e que precisaram passar por processo renal.
“Quando o medicamento é produzido, um lote vem para cá e nós analisamos o quantitativo do princípio ativo, se a está dose dentro do recomendado. Nos reunimos com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, para providenciar uma logística que não deixasse faltar remédios”, explana Nailda.
O “novo normal” é aprendido todos dias dentro do Lacen, segundo ela. “Ninguém conhecia a doença, não sabia se álcool em líquido, em gel, servia. Acho que o maior impacto maior é continuar o monitoramento e garantir a qualidade do álcool, do remédio, dos kits. O fato da Anvisa dispensar registro não significa que o produto tem que ser de baixa qualidade. Nossa divisão é capacitada, tem competência que atende as demandas de minimizar riscos”, assegura a farmacêutica.
Cristiane Shibata Ikeda é quem cuida do supervisionamento dos laboratórios, e relata que muitos, dentre públicos e privados, pediram habilitação para realizar o exame que detecta o vírus.
“É a nossa forma de garantir que os laboratórios sigam o que preconiza o Ministério da Saúde; realizamos visita técnica, orientamos, e pedimos uma contraprova dos primeiros exames para validar e garantir o controle de qualidade”, detalha ela, que também é farmacêutica.
Esforço Conjunto
Para garantir que todas as demandas, e não só as de Covid-19, fossem atendidas, a Divisão de Bilogia Médica trabalhou e trabalha em ritmo de maratona, de acordo com a responsável pelo setor, Patrícia Sato.
“Foi um super esforço, porque outras análises não pararam de chegar. Somos um laboratório de referência para o Estado em análise de agravos de notificação compulsória, e agravos de interesse de saúde pública, como malária, doença de Chagas, tuberculose, sarampo, rubéola, HIV, hepatites virais, meningite. A gente tinha que atender isso e mais a da pandemia”, explica.
Foram abertas duas frentes de trabalho para processar as amostras do novo Coronavírus e alocados dois laboratórios. Um grupo ficou responsável só pela liberação de resultado.
“Porque não é só processar, tem que lançar os resultados um a um, mas a gente deu conta, a equipe toda se uniu”, reconhece.
O Janus fez toda a diferença nesse fluxo.
“No início era tudo manual, mas no pico já tínhamos o equipamento, tanto que nosso acúmulo de amostras pendentes de análise, comparado com outros, estados é mínimo”, garante Patrícia.
Referência – Integrante do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (Sislab), antes da pandemia, o Lacen-PA já fazia o controle dos casos positivos de influenza, de modo a demandar uma análise epidemiológica que ajudava na produção de vacina contra gripe para o ano seguinte.
“Recebíamos entre cinco a dez amostras, por dia, de SARS, e isso atendia a nossa demanda. Com a Covid-19, nós passamos também a fazer o diagnóstico. Todo caso suspeito, internado ou não, vinha para cá”, conta o diretor.
A nova realidade impôs uma rotina inédita aos servidores, que são quase 100% de carreira.
“Tivemos a H1N1, que não chegou perto do que vivemos agora, estamos vivendo o surto de sarampo. Acho que o maior desafio foi dar celeridade à liberação dos resultados, porque naquele momento de caos geral os profissionais da saúde precisavam daquela informação, para isolar, transferir, internar. O fato de termos um quadro quase que inteiramente de efetivos fez muita diferença, porque tantos anos de treinamentos, capacitações e experiência foram colocados em prática agora. O compromisso do Governo possibilitou o aumento da capacidade analítica, estamos nas poli itinerantes, testando mais e mais pessoas. Aumentam os casos, mas é porque aumentou a testagem”, analisa Alberto.