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19 de agosto de 2020O manuscrito não publicado intitulado ‘Romance da Minha Vida’, que integra o acervo de Silvino Santos e que se encontra sob tutela do Museu Amazônico, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é o objeto de estudo da equipe do Laboratório de Pesquisa em Arquivologia, História e Patrimônio, coordenado pelo professor Leandro Coelho de Aguiar, ligado à Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). É o Laboratório o responsável pelo projeto desde 2018, que busca proceder ao diagnóstico, à preservação e à oferta de instrumentos de pesquisa sobre as obras do português radicado no Norte.
Ao todo, são mais de 1.600 itens que retratam a vida e a obra de Silvino Santos, que todos conhecem enquanto fotógrafo e cineasta que representou a região Norte. Sua coleção é formada por fotografias, negativos em vidro, filmes, equipamentos fotográficos, documentos e objetos pessoais, recortes de jornais, revistas, livros e manuscritos adquiridos pela Ufam, por meio de compra e doações.
No ano de 1997, o manuscrito do romance integrou uma exposição local que buscava retratar a Amazônia nas primeiras duas décadas do século XX. Em outro momento, foi estudada em versão preliminar em tese submetida à Universidade de São Paulo (USP), mas, só agora, recebe atenção de uma equipe de pesquisadores para fins de transcrição. De acordo com o professor Leandro Coelho de Aguiar, mesmo com o projeto focado ainda em andamento, alguns resultados se mostram relevantes.
“Estamos na etapa de levantamento das informações do acervo para, posteriormente, produzir um catálogo que será publicado em formato físico e digital”, adiantou o professor. “Estamos diante de um romance que nos apresenta uma outra vertente do talento de Silvino e, pela relevância social e histórica dele, entendemos a importância de esmiuçar esse achado e convertê-lo em um legado para a nossa cultura brasileira, uma vez que Silvino era um dos principais nomes a retratar a nossa região para o país e para o mundo”, considerou.
Segundo o diretor geral do Museu Amazônico, Dysson Teles Alves, o processo de organização arquivística dos vários acervos do Museu vem sendo construído em parceria com Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
“Os alunos de Pibic têm a possibilidade de realizar pesquisas nos nossos acervos. Essa troca é interessante tanto para o aprendizado do aluno, que entra em contato direto com o acervo que deseja pesquisar como para o Museu Amazônico, que recebe essa mão de obra em processo de qualificação para organização dos seus acervos. Com a coleção do Silvino Santos aconteceu isso. O acervo já estava pré-catalogado, composto com mais de 1.600 itens, e dentre eles o projeto do Laboratório de Pesquisa em Arquivologia, História e Patrimônio encontrou o ‘Romance da Minha Vida’, que não está publicado”, explicou o diretor.
O diretor lembrou também que acervos bem catalogados e identificados facilitam o trabalho dos pesquisadores. Ao falar especificamente sobre o Romance, o responsável pelo Museu Amazônico enfatizou que ele não se resume apenas a uma autobiografia.
“Trata-se de um relato histórico, desde a sua infância em uma aldeia portuguesa, passando pela adolescência e chegando até a vida adulta. Destaco que como se tratava de uma pessoa com muitas experiências, sobretudo de viagens, Silvino Santos narrou no manuscrito os aspectos políticos e econômicos dos países em que ele visitou como França, Portugal e Brasil. Há aspectos que o Romance do Silvino proporciona informações muito ricas, principalmente, históricas. Lembro que existem algumas dissertações e teses que mencionam a existência do ‘Romance da Minha Vida’, mas nenhuma analisou a fundo. O que estamos fazendo agora é a transcrição do Romance, respeitando caligrafia e a gramática da época. Os alunos de Arquivologia, coordenados pelo professor Leandro, deram continuidade ao processo de identificação e catalogação deste material. Segundo minhas pesquisas preliminares, o manuscrito não foi editado e o Museu Amazônico tem projeto para futura publicação”, disse.
Para a museóloga do Museu Amazônico, Lucimery Ribeiro, do ponto de vista museológico, o projeto “Diagnóstico do acervo documental histórico do Museu Amazônico”, coordenado pelo professor Leandro Aguiar, auxilia a manutenção de uma etapa importante no papel dos museus: o da preservação.
“No todo, a instituição museológica trabalha a partir da tríade: pesquisa, comunicação e preservação. As etapas de gestão de acervo são diversas e, poder contar com a atenção dedicada pelos integrantes do projeto, agiliza passos relevantes, em específico no acervo do Silvino Santos, do reconhecimento e controle do mesmo. Por meio dessas fases, outras atividades poderão ser estabelecidas no museu, como exposições, publicações, ações educativas, dentre outras. Contar com esse apoio, que considera as práticas necessárias de um museu, é muito importante e um ganho para ambos os lados”, finalizou.
Silvino Santos
Português radicado no Norte do Brasil, Silvino Santos desenvolveu seu trabalho – primeiramente com fotografia, em seguida com cinema – em Manaus (AM), onde morreu em 1970, aos 84 anos. É do cineasta e fotógrafo alguns dos mais importantes registros visuais da Amazônia, como por exemplo, na primeira metade do século 20, o filme “No Paiz das Amazonas” (1921). As obras foram bem recebidas à época de lançamento, apresentadas com bons públicos nas principais capitais brasileiras e na Europa. Trata-se de um pioneiro da fotografia e do cinema no Brasil, que legou importantes registros da vida social e cultural da Amazônia da primeira metade do século XX.