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20 de abril de 2021O significado do nome da artista amazonense We’e’ena, revela muito sobre sua história e sua personalidade: “a onça que nada para o outro lado no rio”. Nascida na Terra Indígena Tukuna Umariaçu no Amazonas, Alto Rio Solimões, We’e’ena Tikuna, rompeu fronteiras, se tornou um dos principais símbolos dos povos indígenas no Brasil e com sua força, perseverança e sangue de guerreira, conquistou notoriedade e é uma importante voz de resistência que ecoa por todo o mundo.
A artista é a quarta filha de Nutchametü rü Metchitücü, seu pai e de Totchimaüna, sua mãe, cujo os nomes, na cultura Tikuna, querem dizer respectivamente “Onça com rosto redondo e bonito” e ”Três araras voando”. No início da adolescência de We’e’ena Tikuna, seus pais decidiram se mudar de Tabatinga, local onde fica localizada a Terra Indígena Tukuna Umariaçu, para morar em Manaus, com o intuito de que seus 06 (seis) filhos, pudessem ter acesso ao ensino.
We’e’ena cresceu, no convívio de duas culturas: as tradições da aldeia e os costumes da urbanidade. O longo percurso de Tabatinga para Manaus não seria seu principal desafio, a indígena Tikuna sofreu racismo e era, habitualmente, humilhada por não entender, tampouco falar a Língua Portuguesa, motivo pelo qual repetiu o colegial várias vezes. Até seus 12 anos de idade, ela só tinha contato com a língua nativa Tikuna, sua língua Mãe.
We’e’ena Tikuna, superou todos os obstáculos impostos pelos conflitos culturais, se tornou artista plástica, cantora, palestrante, nutricionista, designer de moda, youtuber e alcançou a posição de destaque nacional e internacional, de Ativista dos Direitos Indígenas, e sua história é referência para muitos indígenas em todo o Brasil.
Conheça um pouco mais sobre a trajetória de We’e’ena Tikuna.
Artista Plástica
O povo Tikuna é muito artístico, pois a arte está intimamente ligada aos seus costumes, evidenciada pelos grafismos na pele, principalmente no rosto e nos tecidos de TURURI (fibra de árvore amazônica), com seus significados e importância.
Sua primeira formação é de artista plástica. Formada em Artes Plásticas pelo Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura do Amazonas (IDC), We’e’ena conquistou diversos prêmios, entre eles, como a melhor artista plástica indígena do Brasil e 12 de suas obras compõem o acervo permanente do Museu Histórico de Manaus.
We’e’ena Tikuna decidiu se dedicar ao trabalho da inclusão social dos povos indígenas, através da difusão da sua arte. Após seus quadros integrarem uma exposição coletiva com renomados artistas na Casa da Fazenda, em São Paulo, We’e’ena recebeu medalha e certificado de reconhecimento nacional, sendo no mesmo ano homenageada como melhor artista plástica indígena pela Sociedade Brasileira de Educação e Integração (SBEI) e pelo Prêmio Quality Internacional do Mercosul.
Cantora indígena
“Comecei a cantar cedo, ouvindo as cantorias dos anciões. Mas compor profissionalmente, foi aos 18 anos. O povo Tikuna canta o tempo todo. Tem cantoria para todas as ocasiões: roça, pescar, botar criança para dormir, rituais… nosso canto é sagrado: Wiyae utü’û!”, afirma We’e’ena.
We’e’ena é uma profunda conhecedora de sua própria história e dos cânticos do seu povo, sendo compositora de inúmeras canções. Em 1997, lançou o seu primeiro trabalho discográfico intitulado “WE’E’ENA – ENCANTO INDÍGENA”. As letras falam da resistência cultural, da identidade, da preservação do ambiente e outras temáticas ligadas á cultura indígena. Despontou no cenário nacional cantando na língua do seu povo em eventos, destacando a Festa Nacional da Música 2017, como a primeira Indígena a participar do maior encontro da Música Popular Brasileira. Fez inúmeras aberturas, como a Rio +20, Itaú Cultural, Palácio do Governo de Brasília, Revelando São Paulo, Jogos Indígenas, Festival de Bertioga, Dia internacional dos Povos Indígenas, Teatro Amazonas, FLIP 2019, Virada Sustentável 2019, Educação 360. A versão da música “Marakanandé” por We’e’ena Tikuna teve repercussão em todo o Brasil e hoje é considerada como hino Indígena.
Palestrante e Ativista
“Tenho a força dos meus ancestrais em minhas falas, por isso meus discursos são ouvidos com atenção, devido a autoridade e profundidade dos temas atuais indígenas”, afirma We’e’ena, que foi Presidente Nacional das Mulheres Brasileiras Indígenas pela Liga das Mulheres Eleitoras do Brasil (Libra).
We’e’ena é palestrante e militante indígena convidada para inúmeros debates, universidades e fóruns. Itaú Cultural, FLIP 2019, Universidade de Anhanguera, Rio +20, Museu Do Amanhã, Educação 360, Virada sustentável Rio de Janeiro e SESC são alguns deles. Atualmente vem realizando shows e palestras sobre a cultura indígena e o meio ambiente como agente ambiental do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN).
Nutricionista
We’e’ena foi a primeira indígena do povo Tikuna a se formar como Bacharel em Nutrição. Formada pela Universidade Anhanguera de São Paulo, trabalhou em clínicas como a Alamed – Espaço Terapia e na Clínica Medicina Ocupacional em São Paulo. Seu profissionalismo chamou atenção da mídia e atualmente, ela é colunista da “Revista Conexão Mulher”.
Como Chef indígena, integrou o livro “Isto não é (apenas) um livro de receitas – é um jeito de mudar o mundo”, idealizada pelo Instituto Comida do Amanhã (ICA), que reúne artigos de especialistas e renomados Chefs. We’e’ena faz uma reeducação alimentar usando os princípios da alimentação Orgânica, Sustentável e usando elementos da alimentação Indígena, na qual ela é especialista.
Moda: “We’e’ena Tikuna – Arte Indígena”
Em 2019, We’e’ena lançou a primeira grife de moda indígena contemporânea, desenhada e projetada por uma indígena nativa brasileira, que já desfilou na Eco Fashion Week de São Paulo, apresentando sua marca nas passarelas com sucesso de crítica da mídia especializada. Seu brilhantismo, criatividade e originalidade já lhe renderam o convite para a próxima edição do Eco Fashion Week, prevista para este ano (2021).
“We’e’ena Tikuna- Arte Indígena” foi idealizada pela falta de conhecimento da verdadeira história do povo indígena brasileiro. É a primeira Grife de Moda indígena contemporânea projetada inteiramente por uma indígena nativa: sem intermediários, sem ser tutelado e tendo o Indígena como protagonista de todo o processo.
A marca trabalha exclusivamente com tecido de algodão e fibras de Tururi. A pintura dos grafismos são manuais, as peças são feitas uma por uma por We’e’ena Tikuna, as pinturas nos tecidos são de tingimentos naturais, através de jenipapo e urucum, e a estamparia com os grafismos nativos. Sua escolha pelo algodão se deu por ser orgânico e pela facilidade de desenvolver a criação das modelagens das peças.
“Como eu moro na cidade, não posso ter o meu corpo pintado em todas as ocasiões. Sofri preconceito com as minhas pinturas corporais e as minhas roupas nativas. Vencendo o racismo nasceu minha Grife. Há 14 anos que eu faço e desenho as minhas próprias roupas indígenas, e hoje esse sonho se tornou realidade”, enfatiza a artista.
“É importante a visibilidade indígena nos tempos atuais, toda arte é forma de resistência. Com minhas peças de Moda, quero dar visibilidade a cultura indígena, a mulher indígena, a beleza das criações de artistas contemporâneos, que assim como eu, lutam pela causa indígena. Meus desfiles tem a minha trilha sonora indígena e os modelos são, na maioria ou em sua totalidade, indígenas. Todo o processo é idealizado para dar visibilidade para a cultura indígena, criar oportunidades e despertar sonhos,” diz We’e’ena.
A artista ainda explica a origem de sua criação
“Toda a minha ancestralidade eu passo para cada peça de moda desenhada e adiciono uns charmes de contemporaneidade, pois nós indígenas somos atuais, não é? Os nossos grafismos indígenas sempre chamaram a atenção de historiadores, escritores e viajantes, desde a chegada dos primeiros homens brancos no Brasil. A pintura corporal indígena é o elo de transmissão das informações, ricas em significados. É um sistema de comunicação visual, em que a maioria das nossas pinturas no corpo tem um significado seja da fauna, da flora, do rio, da floresta ou de objetos de uso cotidiano”, observa We’e’ena.
Bonecas Indígenas – We’e’ena Tikuna
Após o lançamento da “We’e’ena Tikuna – Arte Indígena”, surgiram as bonecas indígenas a partir das criações da coleção de looks da grife.
A coleção de roupas são peças autênticas, representando a identidade Tikuna, e em especial são para pessoas que realmente se identificam com a causa indígena. E como instrumento de fortalecimento desta causa, nasceu a ideia da mini We’e’ena Tikuna, bonecas que representam a força e a garra dos povos indígenas.
“Ao criar a coleção de bonecas, vi a oportunidade de os pais poderem educar seus filhos, ensinando sobre a importância da cultura indígena. A educação e respeito vem desta formação dentro de casa, pois ninguém nasce com preconceito. Hoje em dia, as crianças estão acostumadas com um padrão de bonecas brancas, loiras e magras, e por isso eu vi necessidade de ter uma representatividade indígena de bonecas como algo educativo para que as crianças possam se conectar diretamente com a cultura indígena, aprender o significado de nossas tradições”, afirma We’e’ena.
As bonecas foram lançadas esta semana, às vésperas da data em que se comemora o Dia do Índio no Brasil (19 de Abril). As bonecas são produzidas manualmente e cada modelo tem um nome indígena Tikuna.
Onde encontrar We’e’ena Tikuna?
weenaticuna@gmail.com| +55 (21) 9 9554-1608| Facebook – https://www.facebook.com/weeenatikuna/| www.weenatikuna.com| Instagram @weena_tikuna| Instagram: @weenatikunaarteindigena| https://www.youtube.com/user/weenaticuna