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30 de janeiro de 2023O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) finalizou neste final de semana o Curso de Aperfeiçoamento e Etnicidade, Sustentabilidade e Saúde Coletiva na Tríplice Fronteira da Amazônia, etapa preparatória ao Mestrado do Programa de Pós-Graduação em condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), que será oferecido pela primeira vez a indígenas da região de fronteira do Alto Solimões, no município de Tabatinga, a partir do segundo semestre deste ano.
O curso preparatório foi iniciado em setembro do ano passado e contou com carga horária de 200 horas/aula, reunindo um total de 40 indígenas das etnias Tikuna e Kokama, dos municípios de Tabatinga e Benjamin Constant. A iniciativa faz parte do Programa de Ações Afirmativas do ILMD/Fiocruz Amazônia, que visa combater discriminações étnicas, raciais, religiosas e de gênero ou de casta, para promover a participação de minorias e combate a discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de acesso à educação, no caso à formação de sanitaristas indígenas.
Desde a sua criação, em 2015, o Mestrado em Saúde Coletiva do PPGVIDA do ILMD/Fiocruz Amazônia conseguiu formar apenas três indígenas do Alto Rio Negro, um quantitativo bastante limitado, de acordo com a coordenadora.
Será a primeira vez que o programa oferecerá um curso de mestrado fora da sede, em Manaus, única e exclusivamente voltado para indígenas, em sua grande maioria aldeados, na modalidade sala estendida do programa, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – que concedeu 15 bolsas, mais recursos para auxílio em pesquisa aos indígenas aprovados – e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), por meio de projeto aprovado recentemente em edital lançado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A parceria também conta com o apoio da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fiocruz, Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Universidade Federal de Roraima.
O curso foi dividido em cinco unidades temáticas, sendo uma transversal relativa às competências do estudante, com uma semana de aulas por mês. Os temas das unidades foram Espaço e Saúde; Saúde, Sustentabilidade e Condições de Vida; Etnicidade, Direitos e Política Indígena; Política e Gestão em Saúde (Indígena e não-indígena), e Diálogos plurais entre saberes indígenas e saberes científicos. A diretora do ILMD/Fiocruz Amazônia, Adele Schwartz Benzaken, destaca o ineditismo e a relevância do curso no processo de valorização do conhecimento tradicional. indígena e na abertura de oportunidades para a formação de sanitaristas indígenas.
Defensora da política de interiorização das ações de Ensino da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken destaca como contribuição nesse processo a realização de diversos cursos de especialização e Mestrado em Saúde Pública pelo ILMD/Fiocruz Amazônia em municípios do interior do Amazonas.
“O Mestrado em Saúde Coletiva para indígenas é mais um importante passo nesse processo. Seria impossível vencermos as desigualdades existentes na Amazônia sem investirmos em pesquisa e ensino em todo esse vasto território. Sofremos com essas desigualdades e a realidade se torna ainda mais cruel em se tratando dos povos indígenas e ribeirinhos da região”, defende.
EXPECTATIVAS
A expectativa de ampliar os horizontes com a oportunidade do Mestrado enche de esperança os alunos do curso de aperfeiçoamento. Rockson Araújo Cruz, cacique tikuna da comunidade Umariaçu 2, define a oportunidade como um ”novo horizonte” que se abre para ele e os companheiros de turma.
“É uma honra como líder da comunidade indígena Umariaçu 2 fazer parte de um curso que tem importância para o nosso povo e traz oportunidade de aperfeiçoamento para os nossos estudantes. É um caminho grande que temos pela frente, um horizonte novo que se abre e gostaria muito de agradecer a Fiocruz por abrir essa porta para os estudantes indígenas”, comemorou, destacando que a Umariaçu 2 tem aproximadamente 7 mil indígenas.
Satisfeito em participar do curso, o professor indígena Rinaldo Valência Firmino, 29, da etnia Tikuna, é outro que se diz esperançoso. Formado em Agroecologia, pela UEA, ele tem especialização em Geografia Ambiental e é pós-graduado em Pedagogia em Processo de Aprendizagem, Desenvolvimento e Alfabetização. Atualmente, atua como professor na escola indígena da comunidade, e acredita que como sanitarista indígena terá oportunidade de contribuir ainda mais para com o seu povo. “O mestrado traz oportunidade para trabalharmos como sanitaristas indígenas, contribuir com políticas públicas, entender e interferir na realidade indígena”, ressaltou.
PROCESSO
Presente ao encerramento, a pesquisadora da ENSP, Ana Lúcia Pontes, que atuou como docente no projeto, ressalta o protagonismo da Fiocruz Amazônia no processo de construção do curso de aperfeiçoamento e na oportunidade de oferecimento do Mestrado em Saúde Coletiva para indígenas.
“Essa é uma discussão que vem se desenvolvendo a partir dos pesquisadores da Fiocruz Amazônia, mais o GT de Saúde Indígena da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) sobre as ações afirmativas e as mudanças que a política tem proporcionado desde que foi institucionalizada. Historicamente as pautas indígenas foram colocadas por pessoas não-indígenas, o que não se justifica mais porque eles (os indígenas) têm pessoas já formadas, habilitadas, capazes e que reivindicam esse lugar de falarem por si mesmos e de estarem nos espaços de tomadas de decisões de políticas públicas”, afirma Ana Lúcia, referendando a importância do trabalho desenvolvido na região da Tríplice Fronteira no Alto Solimões.
Para ela, o curso de aperfeiçoamento é uma ferramenta para facilitar e acolher os indígenas, além de gerar um processo de qualificação para que eles assumam e estejam à frente nos diferentes âmbitos, seja na política de saúde, seja na produção acadêmica, seja nos processos de ensino.
“Eles não se sentiam acolhidos e bem-vindos nessas instituições acadêmicas, como não sentem nas universidades ainda sofrem muito racismo, então vimos discutindo algumas estratégias e avaliações com as próprias ações afirmativas e algumas propostas de ampliação das ações”, relembra, citando que a Fiocruz Amazônia foi a primeira a incorporar as ações afirmativas, tendo sido a pioneira também na inclusão de cotas para indígenas.
O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) finalizou neste final de semana o Curso de Aperfeiçoamento e Etnicidade, Sustentabilidade e Saúde Coletiva na Tríplice Fronteira da Amazônia, etapa preparatória ao Mestrado do Programa de Pós-Graduação em condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), que será oferecido pela primeira vez a indígenas da região de fronteira do Alto Solimões, no município de Tabatinga, a partir do segundo semestre deste ano.
O curso preparatório foi iniciado em setembro do ano passado e contou com carga horária de 200 horas/aula, reunindo um total de 40 indígenas das etnias Tikuna e Kokama, dos municípios de Tabatinga e Benjamin Constant. A iniciativa faz parte do Programa de Ações Afirmativas do ILMD/Fiocruz Amazônia, que visa combater discriminações étnicas, raciais, religiosas e de gênero ou de casta, para promover a participação de minorias e combate a discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de acesso à educação, no caso à formação de sanitaristas indígenas.
Desde a sua criação, em 2015, o Mestrado em Saúde Coletiva do PPGVIDA do ILMD/Fiocruz Amazônia conseguiu formar apenas três indígenas do Alto Rio Negro, um quantitativo bastante limitado, de acordo com a coordenadora.
Será a primeira vez que o programa oferecerá um curso de mestrado fora da sede, em Manaus, única e exclusivamente voltado para indígenas, em sua grande maioria aldeados, na modalidade sala estendida do programa, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – que concedeu 15 bolsas, mais recursos para auxílio em pesquisa aos indígenas aprovados – e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), por meio de projeto aprovado recentemente em edital lançado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A parceria também conta com o apoio da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fiocruz, Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Universidade Federal de Roraima.
O curso foi dividido em cinco unidades temáticas, sendo uma transversal relativa às competências do estudante, com uma semana de aulas por mês. Os temas das unidades foram Espaço e Saúde; Saúde, Sustentabilidade e Condições de Vida; Etnicidade, Direitos e Política Indígena; Política e Gestão em Saúde (Indígena e não-indígena), e Diálogos plurais entre saberes indígenas e saberes científicos. A diretora do ILMD/Fiocruz Amazônia, Adele Schwartz Benzaken, destaca o ineditismo e a relevância do curso no processo de valorização do conhecimento tradicional. indígena e na abertura de oportunidades para a formação de sanitaristas indígenas.
Defensora da política de interiorização das ações de Ensino da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken destaca como contribuição nesse processo a realização de diversos cursos de especialização e Mestrado em Saúde Pública pelo ILMD/Fiocruz Amazônia em municípios do interior do Amazonas.
“O Mestrado em Saúde Coletiva para indígenas é mais um importante passo nesse processo. Seria impossível vencermos as desigualdades existentes na Amazônia sem investirmos em pesquisa e ensino em todo esse vasto território. Sofremos com essas desigualdades e a realidade se torna ainda mais cruel em se tratando dos povos indígenas e ribeirinhos da região”, defende.
EXPECTATIVAS
A expectativa de ampliar os horizontes com a oportunidade do Mestrado enche de esperança os alunos do curso de aperfeiçoamento. Rockson Araújo Cruz, cacique tikuna da comunidade Umariaçu 2, define a oportunidade como um ”novo horizonte” que se abre para ele e os companheiros de turma.
“É uma honra como líder da comunidade indígena Umariaçu 2 fazer parte de um curso que tem importância para o nosso povo e traz oportunidade de aperfeiçoamento para os nossos estudantes. É um caminho grande que temos pela frente, um horizonte novo que se abre e gostaria muito de agradecer a Fiocruz por abrir essa porta para os estudantes indígenas”, comemorou, destacando que a Umariaçu 2 tem aproximadamente 7 mil indígenas.
Satisfeito em participar do curso, o professor indígena Rinaldo Valência Firmino, 29, da etnia Tikuna, é outro que se diz esperançoso. Formado em Agroecologia, pela UEA, ele tem especialização em Geografia Ambiental e é pós-graduado em Pedagogia em Processo de Aprendizagem, Desenvolvimento e Alfabetização. Atualmente, atua como professor na escola indígena da comunidade, e acredita que como sanitarista indígena terá oportunidade de contribuir ainda mais para com o seu povo.
“O mestrado traz oportunidade para trabalharmos como sanitaristas indígenas, contribuir com políticas públicas, entender e interferir na realidade indígena”, ressaltou.
PROCESSO
Presente ao encerramento, a pesquisadora da ENSP, Ana Lúcia Pontes, que atuou como docente no projeto, ressalta o protagonismo da Fiocruz Amazônia no processo de construção do curso de aperfeiçoamento e na oportunidade de oferecimento do Mestrado em Saúde Coletiva para indígenas.
“Essa é uma discussão que vem se desenvolvendo a partir dos pesquisadores da Fiocruz Amazônia, mais o GT de Saúde Indígena da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) sobre as ações afirmativas e as mudanças que a política tem proporcionado desde que foi institucionalizada. Historicamente as pautas indígenas foram colocadas por pessoas não-indígenas, o que não se justifica mais porque eles (os indígenas) têm pessoas já formadas, habilitadas, capazes e que reivindicam esse lugar de falarem por si mesmos e de estarem nos espaços de tomadas de decisões de políticas públicas”, afirma Ana Lúcia, referendando a importância do trabalho desenvolvido na região da Tríplice Fronteira no Alto Solimões.
Para ela, o curso de aperfeiçoamento é uma ferramenta para facilitar e acolher os indígenas, além de gerar um processo de qualificação para que eles assumam e estejam à frente nos diferentes âmbitos, seja na política de saúde, seja na produção acadêmica, seja nos processos de ensino.
“Eles não se sentiam acolhidos e bem-vindos nessas instituições acadêmicas, como não sentem nas universidades ainda sofrem muito racismo, então vimos discutindo algumas estratégias e avaliações com as próprias ações afirmativas e algumas propostas de ampliação das ações”, relembra, citando que a Fiocruz Amazônia foi a primeira a incorporar as ações afirmativas, tendo sido a pioneira também na inclusão de cotas para indígenas.
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