Manaus: concentração econômica e de população na capital da Zona Franca

Por Norma Bentes| Manaus lidera há mais de meio século na geração de riqueza, na concentração da população e na urbanização no Amazonas. Isso constitui alguns dos impactos da Zona Franca de Manaus (ZFM), instalada na capital em 1967, que atuou inicialmente como área de livre comércio e, posteriormente na atividade industrial.

Os dados do Produto Interno Bruto dos Municípios (PIBM), no período 1970-2022, indicam a concentração da geração da riqueza em Manaus. Conforme SOUSA (2016), em 1970, Manaus possuía 64,27% de participação no PIB estadual. Em 1980, avançou fortemente e passou a ter 84,15%, situação que se manteve nas décadas seguintes: 1990: 86,16%; 2000: 84,14%; 2010: 83,30%.

Em 2021, a participação de Manaus no total do PIB do Amazonas foi 78,52% (SEDECTI, 2021). Embora com pequena redução frente as décadas anteriores, a concentração da geração da riqueza na capital é fato incontestável.

A geração de riqueza via atividade industrial concentrada em Manaus, que tem promovido o esvaziamento econômico dos municípios do interior do estado (SOUSA, 2016), também teve impactos na dinâmica demográfica estadual.

Os dados dos censos demográficos indicam que em 1970 Manaus possuía 1/3 da população estadual, ou 32,62%. Em 1980, saltou para 44,28% essa participação da capital. A partir de 1991 a população do Amazonas passou a se concentrar metade em Manaus (48,09%) e a outra metade nos demais municípios, situação mantida até os dias atuais. Em 2000, Manaus registrou 49,90% da população estadual; em 2010, passou a ter 51,72% e, nos dados mais recentes do censo 2022, registrou 52,36% (tabela 1).

No período de 1970 a 2022 foram criados 18 novos municípios no Amazonas (Emenda Constitucional n. º 12, 10/02/1981) e Lei Estadual n. º 1.828, 30/12/1987), passando de 44 para 62. Todavia, isso não implicou numa distribuição mais equitativa da população no território amazonense, pois a população continuou avançando em sua concentração na capital Manaus.

O acúmulo de população na capital em detrimento dos municípios do interior, mesmo que esta concentração não seja tão aguda quanto a concentração da geração de riqueza, demonstra que ambos os processos se associam e, evidenciam profundas contradições no município sede da Zona Franca de Manaus.

Fotos: Paulo Neves

Fonte:

https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/series-temporais/series-temporais/

SOUSA (2016): http://objdig.ufrj.br/42/teses/858664.pdf

Biografia

Norma Maria Bentes de Sousa
Nascida em Santarém-PA
Graduação em Serviço Social (UFPA) – 1995), Mestrado em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) – 1998, Doutorado em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) – 2016.
Analista de Informações Geográficas e Estatísticas, IBGE SES Pará.
Autora dos Livros:
– Manaus: Realidade e contrastes sociais 2004 – 1a edição); 2014 – 2a edição. Manaus, Editora Valer;
– Indicadores Sociais no Amazonas: Contrastes na urbanização da capital e do interior. Manaus, COMCULTURA, 2008.
Premiações:
– Prêmio Literário Cidades de Manaus, Categoria Samuel Benchimol – Livro de Ensaio Socioeconômico – Ano 2008
– Prêmio Literário Cidades de Manaus, Categoria Samuel Benchimol – Livro de Ensaio Socioeconômico – Ano 2014

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